Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Temos papa. A fumaça começou cinza, logo passou para branca mas quem tirou as dúvidas foi o ancestral bimbalhar dos sinos da basílica de São Pedro. Temos papa, mas o plural não se aplica à mídia. Pela primeira vez nesta era da informação, a mídia ficou de fora, impotente e passiva. Não influiu e teve que se limitar às especulações ao longo de longos onze dias. Evidentemente aparecerão amanhã jornais e jornalistas vangloriando-se de terem previsto a escolha de Joseph Ratzinger. Vã glória. Se houve favoritos, nós não soubemos. A homilía que o cardeal eleito fez na missa de ontem, reproduzido nos jornais de hoje não foi a manifestação de um postulante que busca simpatias, foi a manifestação de um vitorioso expondo as suas convicções. Ninguém soube fazer a leitura correta, todos erraram. Futebol é uma caixinha de surpresas. Escolha de pontífices também. Esta edição do Observatório da Imprensa vai tratar de uma tragédia coletiva que a agonia e a morte do papa Karol Wojtila de certa forma amorteceram. Na noite da quinta-feira, 31 de março, em Queimados e Nova Iguaçu na Baixada Fluminense, foram massacradas aleatoriamente 29 pessoas, entre crianças, jovens e adultos. Nunca houve chacina igual no Rio de Janeiro, já no dia seguinte surgiram as primeiras suspeitas de que a chacina foi praticada por membros da Polícia Militar do estado. Apesar da comoção com a morte de João Paulo II ocorrida 36 horas depois, a mídia conseguiu reproduzir a dor das 29 famílias e, em parte, comover o país. Se o banho de sangue tivesse ocorrido num bairro de classe média do Rio ou São Paulo, mesmo com a morte do papa, o destaque, a comoção e a indignação teriam sido maiores como escreveu o jornalista Marcelo Coelho da ‘Folha de S. Paulo’. De qualquer forma, hoje, 20 dias depois, a Polícia Federal já indiciou e prendeu nove policiais militares da ativa, servindo nas imediações. Como todo ato terrorista, este tinha a intenção de intimidar a população e intimidar o estado. Estamos diante de uma situação insurrecional onde os encarregados de defender a sociedade nas horas vagas a agridem com toda a violência. Devagar, aos poucos, chegamos a um tenebroso impasse que a mídia ainda não conseguiu explicitar com a clareza necessária: não se sabe onde está a lei, não se sabe quem é o poder e não se sabe para quem apelar. Assista ao compacto desse programa em:
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