Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

A brutalidade em tela

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

No momento em que a sociedade brasileira se dispõe a pagar o alto preço da busca da verdade, a apresentadora Xuxa Meneghel entra em cena com uma contribuição corajosa e penosa.

A confissão que fez no programa Fantástico (20/5) sobre os abusos sexuais de que foi vítima quando criança até a adolescência chocaram o país. A sociedade cordial, complacente e despreocupada, de repente foi obrigada a defrontar-se com uma violência que não parece rara, mas teima em ignorar.

O fato desta violência ter ocorrido numa família da classe média, aparentemente estruturada e distante da miséria que geralmente associamos à promiscuidade, torna ainda mais dramáticas as revelações da apresentadora.

A extraordinária repercussão acionou um movimento de respeito e solidariedade em todos os escalões e esferas, chegando à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, ministra Maria do Rosário. Não faltou a dose habitual de chacota e cinismo atribuindo-se o gesto de expor tão cruamente sua vida íntima a uma compulsão marqueteira de quem está no show-bizz.

O deboche não colou: no programa seguinte foi lembrado outro caso, no interior de São Paulo, envolvendo um pai, advogado defensor de direitos humanos, que durante anos brutalizou não apenas a filha, também um filho menor.

Esta violência não é isolada, ela nos remete às revelações de pedofilia em entidades religiosas e à noção de que o pecado pode ser amenizado no confessionário.

Xuxa sacudiu uma sociedade que não gosta de ser sacudida nem incomodada. A imprensa tem o dever de ajudá-la a derrubar a hipocrisia.