Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá, cometeu uma gafe quando tentou diminuir a importância do Projeto Mãos Limpas. Ao afirmar que não era um projeto do governo mas da sociedade, sem perceber, não apenas legitimou e valorizou a iniciativa mas conferiu à sociedade brasileira um status superior.
Uma sociedade que se organiza para impor a sua vontade aos poderes constituídos está madura e preparada para operar grandes transformações.
A imagem das mãos limpas não é nova: nos anos 90 a sociedade italiana lançou-se na memorável cruzada das "Mani Pulite" contra juízes corruptos e autoridades ligadas à máfia. A nossa Ficha Limpa é menos ambiciosa: quer apenas sanear os legislativos porque neles começa o círculo vicioso da corrupção. Se candidatos a qualquer função pública são obrigados a apresentar um currículo impecável, aqueles que farão as leis não podem ostentar máculas ou abrigar suspeitas.
Representantes do povo desqualificados só podem produzir sistemas capazes de mantê-los impunes. O círculo virtuoso deve começar pelos que fazem as leis. O acerto desta campanha iniciada pela CNBB está na compreensão de que vereadores, deputados estaduais ou federais e senadores jamais teriam condições – mesmo que o desejassem – de reverter procedimentos imorais tão arraigados.
Com rara felicidade soube a mídia detectar e vocalizar o sentimento coletivo. Graças a isso, em menos de dois anos quase dois milhões de assinaturas foram coletadas. Hoje o senador Demóstenes Torres, relator do projeto, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, confirmou que não vai alterar o texto remetido pela Câmara e prometeu enviá-lo no mesmo dia ao plenário.
Estamos na véspera de um grande momento: aprovada a ficha limpa, lavará a nossa alma.