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Não foi uma tragédia brasileira. Foi a tragédia brasileira. A maior de todas, em todos os tempos. Desenrolada diante de milhões de telespectadores, ao longo de 38 dias, com todos os ingredientes das tragédias clássicas – euforia, surpresa, angústia, esperança, desespero e o desenlace: uma vítima fatal, as demais em prantos, de luto fechado.
1985 começa sem pressentimentos, tudo preparado para dar certo. A ditadura militar de 21 anos será encerrada com a eleição e a posse de um querido e prudente líder oposicionista. Houve a eleição, indireta porém legítima: Tancredo Neves derrotou o detestado Paulo Maluf por esmagadora maioria, 480 a 118 com 26 abstenções, a maioria do PT.
Mas não houve posse. Há algumas semanas, o doutor Tancredo sentia fortes dores no abdômen, disfarçava, tomava antibióticos às escondidas. Não queria ir a um hospital para fazer exames, temia que os militares da linha dura sabendo que estava doente tentassem desesperados um golpe de mão.