Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Cobertura simplista para um tema essencial

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Um dos participantes do nosso primeiro programa, em maio de 1998, já se vão quase 15 anos, foi um leitor de Juiz de Fora, estudante de Física, Marcelo França, que escreveu uma carta no falecido Jornal do Brasil criticando a cobertura da imprensa sobre o desabamento do edifício Palace Dois, na Barra da Tijuca. A palavra interatividade ainda não fora inventada, nem o conceito de redes sociais, o programa queria apenas socializar o debate sobre o desempenho da imprensa.

A edição de hoje recorre novamente a um cidadão-telespectador que no dia 29 de junho escreveu à ouvidoria da Tv Brasil uma carta criticando a omissão da mídia diante da greve nas universidades federais e tratada como um "não movimento". Gilberto Ichiara, técnico administrativo da Universidade Federal do Tocantins, critica a mídia pela cobertura monocórdica. Todos repetem que "greve prejudica os alunos" levando a sociedade a acreditar que alunos não querem estudar e os trabalhadores não querem trabalhar.

Nossa imprensa opta pelo simplismo porque não tem profissionais treinados para encarar complexidades. Quantos jornais têm seções especializadas em Educação? Por que a mídia dá tanta atenção às dietas e celulite e quase nenhum espaço à formação de médicos?

A cobertura de Educação nunca é tratada como emergencial porque são poucos os jornalistas especializados e porque nas redações impera o dogma que "Educação não vende jornal, não dá Ibope". Não vende porque os pais de alunos não se interessam pelo futuro dos filhos ou porque os próprios veículos jornalísticos estão desinteressados no seu próprio futuro?

Este Observatório foi criado justamente para caminhar na direção oposta aos Ibopes. Para nós, Educação é uma questão prioritária. Queremos um país com mais Gilbertos Ichiara, gente para quem as manchetes, mesmo quando denunciadoras, atendem ao bem comum.