Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
A imprensa sabe reviver a história, muitas vezes, porém, não sabe vivê-la. Testemunhá-la. A cobertura da crise de 2008 foi claudicante, sobretudo porque a imprensa mundial, a reboque da americana, apostava todas as fichas na pronta recuperação da economia.
O preço deste otimismo prematuro, infundado, está sendo pago agora, dois anos depois, quando se juntaram os destroços da crise anterior – a recessão dos Estados Unidos – com a crise fiscal nos países da união europeia.
Quando a imprensa deixa de questionar, trai seus compromissos com a sociedade. Se tivesse sido mais rigorosa em 2008, parte dos dissabores atuais teriam sido evitados. É preciso não esquecer que a agência Standard & Poor's, que acaba de castigar Obama com a perda do triplo "A", nunca foi cobrada pela incapacidade de prever o que aconteceria em 2008.
Aqui é preciso examinar os procedimentos jornalísticos antes do dia 2 de agosto, quando venceu o prazo para a ampliação do teto para o endividamento dos EUA: o noticiário foi todo transferido para as páginas de economia mas o problema era fundamentalmente político: a intransigência do Tea Party, falange da ultra-direita.
O leitor das páginas de economia é geralmente um empresário mais interessado em sair do vermelho do que encarar as sutilezas do processo político. Só nas últimas semanas é que colunistas do porte do Nobel Paul Krugman começaram a chamar a atenção para os aspectos políticos do impasse econômico, sugerindo, inclusive, que o rebaixamento dos Estados Unidos pela Standard & Poor's pode ter motivações políticas.
O crash de 1929 reforçou os movimentos fascistas europeus. Isso é um dado que não deve ser esquecido. A economia não anda sozinha e geralmente está mal acompanhada.