Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. As manchetes dos jornais de hoje trataram do ultimato que o presidente da Câmara deu ao presidente da República: ou nomeava o seu afilhado como ministro das Comunicações ou ele passaria para a oposição. Ninguém lembrou-se de revelar absurdo maior: se o ex-quase ministro Ciro Nogueira fosse efetivamente nomeado, o Governo estaria cometendo uma flagrante ilegalidade já que a família do deputado é dona de duas rádios no Piauí o que caracteriza um conflito de interesses. A reforma ministerial parece que foi abortada mas deixou a impressão que nem o Governo nem a mídia e muito menos o Congresso estão atentos para estas pequenas infrações. Tanto que o próprio Severino Cavalcanti tem a concessão de uma rádio em Pernambuco e ninguém reclama. Nestas duas décadas da redemocratização muita coisa mudou na imprensa brasileira. Em 1985 ela saiu da censura e da auto-censura do regime militar bastante atenta e bastante diversificada. Foi protagonista dos mais importantes episódios mas aos poucos foram se atenuando os seus compromissos com a democracia. Começou a ficar visível que os interesses da indústria da comunicação nem sempre coincidem com o interesse público. A imprensa hoje está mais preocupada com a sua sobrevivência econômica e empresarial e menos com o seu aperfeiçoamento institucional. E quem paga é a democracia. O fenômeno Severino não teria acontecido se tivéssemos uma cobertura legislativa mais eficaz e mais vigilante. Se tivéssemos uma imprensa efetivamente nacional não teríamos tantas surpresas, se a mídia acompanhasse com mais rigor a distribuição de concessões de rádio e tv pela Câmara não teríamos 30 ou 40% dos nossos congressistas transformados em empresários de comunicação. O surpreendente ultimato do presidente da Câmara ao presidente da República é muito mais do que uma crise política. É uma crise institucional que a imprensa por conveniência teima em ignorar. Assista ao compacto desse programa em:
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