Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Há 30 anos seria impossível encontrar na grande mídia brasileira textos e discussões sobre a grande mídia. Falar sobre jornalismo nos jornais era tabu. Criticar os donos da verdade, impensável. A imprensa era uma vestal inatingível e inatacável. O quadro reverteu-se drasticamente, a mídia está na mídia. Feliz e infelizmente. Nesta matéria o Brasil antecipou-se a muitos países com tradições democráticas mais sólidas. A sociedade brasileira não apenas acostumou-se com esta isonomia de tratamento da imprensa com relação aos outros poderes mas a própria imprensa – de maneira geral – acostuma-se com a crítica regular e pública dos seus procedimentos. Jornais e revistas vão para a berlinda e isto é ótimo, tanto para jornais e revistas como para os seus leitores. O dado novo no quadro brasileiro de observação da imprensa foi o início na semana passada das atividades do primeiro ombudsman ou ouvidor televisivo na TV Cultura. O fato é auspicioso mas o que chama a atenção é o atraso de 15 anos, repito 15 anos, entre esta contratação e a contratação do primeiro ombudsman da mídia impressa pela Folha de S.Paulo, em 1989. Chama a atenção principalmente o fato de que este primeiro ouvidor televisivo esteja funcionando numa emissora da rede pública quando esta, justamente por ser pública, está muito mais atenta aos seus compromissos com a qualidade do que as redes comerciais. Por que razão a TV privada com os seus vastos recursos e apoios publicitários não se dispõe a abrir uma janela para discutir publicamente o teor da sua programação? Esta é a pergunta que precisa ser feita. Mas esta pergunta nos leva à outra e ainda mais embaraçosa – por que razão o Governo que tem poderes constitucionais para intervir nos horários da programação televisiva abre mão deste poder e o deixa nas mãos das tevês comerciais que já demonstraram o seu desinteresse pela formação de crianças e jovens? Como se vê, o debate sobre a qualidade na TV está apenas começando.