Thursday, 09 de January de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 25 - nº 1320

Futebol, patriotismo e cerveja

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Começou hoje a temporada de emoções. E, enquanto a Tv está neste momento envolvida com a discussão sobre a partida desta tarde, vamos desenvolver uma pauta que nenhum veículo jornalístico, sobretudo na mídia eletrônica, ousaria tocar, muito menos aprofundar. No jogo que vamos comentar quem está perdendo somos nós, a sociedade brasileira, e perdendo por uma goleada.

O mega-espetáculo e mega-negócio chamado futebol tem muitos protagonistas mas fora dos gramados quem manda é a cerveja. Neste mundial, a Brahma tornou-se a primeira marca brasileira a patrocinar o evento chamado copa do mundo. E qual o problema? Se a Adidas, a Sony e a Visa patrocinam a Fifa, por que uma cervejeira não pode participar da festa? Você sabe por que: o anúncio de cerveja não é uma peça subliminar, disfarçada: o anúncio de cerveja é concebido para estimular diretamente o consumo da bebida, bebida alcoólica. E, ao associá-la à sensação de alegria e triunfo, emite-se uma mensagem clara: seja um vitorioso também, tome a sua cervejinha ao lado de uma estonteante morena brasileira ou loura importada.O Ministério da Saúde andou preocupado com a excessiva presença da propaganda de cerveja em nossa Tv. Estava certo porque é dever do estado promover a saúde pública através de políticas públicas preventivas. O alcoolismo não é brincadeira, os jovens são responsáveis por 6% do que se consome de álcool no país. Adultos entre 18 e 29 anos que correspondem a 22% da população brasileira, entornam 40 % do álcool consumido. Apesar destas dramáticas cifras, o Ministério da Saúde recuou.A bola ficou com o Conar, o tão badalado Conselho de Autorregulação publicitária que proclama sua preocupação diante dos apelos cervejeiros dirigidos às crianças e adolescentes. Mas o Conar é uma entidade criada pelo mercado e o mercado só obedece a uma lei: crescer, crescer sem controles e sem regulação.

Como a imprensa não costuma questionar os interesses dos anunciantes, só nos resta apelar para a consciência daqueles que sustentam a imprensa: você-leitor, você-internauta, você-telespectador, você-ouvinte. Se perdemos esta parada, quem perde é o Brasil.