Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Liberdade de expressão

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


Preste atenção: a liberdade de expressão no Brasil está sendo violada regularmente por aqueles que deveriam ser os seus defensores. A Justiça brasileira está implantando no país a censura togada. Um magistrado de São Paulo determinou que a revista Você S.A. da editora Abril fosse impedida de circular a não ser que publicasse uma determinada matéria do jeito que ele, juiz, queria. Isto não é apenas censura, é censura prévia. O juiz não se contentou em assumir-se como censor. Pretendeu substituir-se aos jornalistas.


Não menos grave para a mídia brasileira é o caso do mega-grampo na Bahia e que envolveu mais de uma centena de telefones. Este não é apenas um caso de polícia. Também não é apenas mais um caso de quebra de decoro parlamentar porque o suspeito de ser o mandante é o senador Antonio Carlos Magalhães. Este episódio está intimamente ligado ao desempenho da mídia porque nos últimos anos a mídia tem sido tão complacente e tão receptiva à transcrição de grampos que a prática criminosa legitimou-se. Criou-se a máfia dos grampos, a indústria de grampos, técnicos de grampos, jornalistas e veículos especializados em receber grampos. Obviamente criou-se na opinião pública a impressão de que o grampo é um recurso válido na obtenção de informações e na investigação jornalística. Não é. Mesmo o grampo autorizado por um magistrado tem o seu teor protegido pelo segredo de Justiça.


Significa que o grampo legal só existe na esfera policial e judicial. Na esfera jornalística, todo grampo é ilegal. Isto dizemos há alguns anos. Em nossos 5 anos de vida já fizemos dez programas sobre grampos. Enquanto a mídia vibrava com os escândalos que resultavam da transcrição de grampos, este Observatório reclamava contra o ‘jornalismo fiteiro’ e a ‘grampofilia’. Os grandes veículos passaram por cima de qualquer preocupação ética e continuaram disputando o mercado grampeador atraindo todos aqueles que recorriam à escuta telefônica para vingar-se de adversários. As grandes crises nacionais nos últimos anos não foram desencadeadas por confrontos de idéias ou de propostas mas resultaram da divulgação de grampos. Sobrou pouco tempo para discutir os grandes problemas nacionais. O mega-grampo baiano tem ainda outra implicação jornalística.


O senador ACM acusado de ser o mandante da escandalosa operação, além de ser o mais poderoso cacique político da Bahia é também um poderoso cacique da mídia local. E não apenas isso, durante algumas décadas controlou pessoalmente setores estratégicos da grande imprensa do Rio e de São Paulo. Este domínio da mídia nacional e da mídia regional deu ao parlamentar uma imunidade e um poder de fogo que poucos políticos desfrutaram no país desde o fim da ditadura. Imprensa e poder é um binômio que este Observatório da Imprensa jamais perdeu de vista. Agora, mais do que nunca, deve ser a nossa prioridade.


Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm