Sunday, 29 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Mídia e Governo

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


Faça as contas: neste momento são pelo menos quatro países democráticos cujos governos estão em confronto aberto com as respectivas mídias. Os repórteres da Casa Branca estão brigando com Bush e ele com os repórteres. O premiê Blair comprou uma tremenda briga com a BBC e grande parte da mídia inglesa. A imprensa italiana está brigando há tempos com o premiê Berlusconi e o presidente Hugo Chávez há tempos acusa a imprensa de querer derrubá-lo do poder. Isto sem falar na Rússia hoje muito distanciada dos paradigmas democráticos e onde praticamente já não existe imprensa de oposição e nem oposição.


A primeira conclusão, óbvia, quase uma premissa, é que o confronto entre os poderes só ocorre em regimes democráticos. Sem democracia não há discórdias nem debate. Portanto, as crises entre o Governo e a imprensa são bem-vindas, sintomas de um sistema aberto e tão saudáveis como a febre num caso de infecção.


O Brasil entrou no rol dos países onde o Executivo e o chamado quarto poder começaram a fazer caretas um para o outro. No fim do ano, numa mensagem bem humorada como é de seu feitio, o presidente admitiu que muito do que é noticiado não agrada a certas esferas do Governo.


No início do ano, a coisa esquentou um pouco quando em nota oficial a presidência reclamou contra as especulações da imprensa sobre a reforma ministerial. Em seguida, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, num ato em solidariedade ao deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, desancou ‘certos setores da imprensa’ que quebram o sigilo dos processos e divulgam partes dele, nem sempre as mais verazes. Criou-se então uma celeuma em torno de uma nova Lei da Mordaça envolvendo a imprensa e o Ministério Público.


E na semana passada para acalmar novo surto especulativo do mercado financeiro o Governo investiu contra a boataria. Não mencionou os veículos que transportam estes boatos, mas não é difícil identificar a mídia no meio das queixas.


Neste momento a situação é de calmaria. Justamente por isso e por que estamos engajados na manutenção e aprimoramento do processo democrático vale a pena esmiuçar os recentes estremecimentos. Não para julgar e incriminar mas para evitar novos sustos. Sobretudo porque muito brevemente conheceremos o teor da decisão do BNDES a respeito do pedido das empresas de mídia para a abertura de uma linha crédito especial capaz de aliviar suas aflições. Antes que o Governo torne-se o credor efetivo da maioria das empresas jornalísticas, este Observatório acha imperioso lembrar que a função da imprensa é incomodar os governos e a obrigação dos governos é acostumar-se com estes incômodos.


Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm