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Estes não são apenas tempos interessantes (para usar a expressão do historiador Eric Hobsbawm), estes são também tempos de angústia. A contribuição do ser humano a esta sombria era da insegurança não se limita à explosão do fanatismo religioso e da intolerância política. As agressões à natureza nos últimos séculos está produzindo respostas contínuas e intensas. As novas tecnologias não estão erradicando a fome e a miséria, estão, sim, substituindo valores morais que diferenciaram a espécie humana das outras espécies.
Uma destas drásticas substituições está ocorrendo com grande velocidade na comunicação, uma das esferas essenciais da condição humana. A pujança da nossa civilização nos últimos milênios apoiou-se paradoxalmente num produto extremamente frágil, vulnerável, perecível: o papel.
E o papel, segundo anunciam as cassandras, está com os dias contados. O que antes funcionava no espaço e medido em centímetros, agora foi transformado em byts, baites, impulsos, armazenados em chips microscópicos ou nas nuvens.
Há três semanas, na Assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa, discutiu-se evidentemente o futuro dos jornais. Jornalistas e empresários só falaram sobre isso. E um dos depoimentos mais emocionados veio de um dos jornalistas mais bem sucedidos, o criador e atual presidente do El País, um dos melhores jornais do mundo, Juan Luís Cebrián (que já esteve aqui neste programa). Disse Cebrian: "Há 50 anos faço jornais de papel e morrerei fazendo jornais de papel."