Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Mídia indutora da obesidade infantil

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Quando o Estado defende o bem-estar e a saúde do cidadão, isso significa que o Estado está tutelando a sociedade? Será que os ideólogos do mercado não conseguem distinguir a diferença entre defender e tutelar?

A questão ganha evidência e relevância à medida em que as autoridades, sobretudo as autoridades sanitárias, começam a coibir situações abusivas. A grita começou quando a Anvisa proibiu a participação de celebridades em anúncios e comerciais vendendo remédios. Os "mercadistas" chiaram alegando que a proibição era um atentado à liberdade de expressão. Atentado ao interesse público é ganhar dinheiro incentivando a auto-medicação.

Em maio passado, o governo decidiu que supermercados e lojas de conveniência não poderão mais vender medicamentos sem prescrição como acontecia até então. A indústria farmacêutica e os supermercados protestaram, a mídia deu-lhes cobertura. As farmácias e entidades de defesa do cidadão apoiaram a proibição.

Na semana passada, foi a vez da Anatel intervir no mercado de telefonia móvel diante da avalanche de reclamações do cidadão-consumidor. A mídia fez cara feia novamente, esquecida de que também é responsável por anunciar produtos e serviços sem investigar a capacidade das empresas em atender as promessas da publicidade.

Hoje, este Observatório da Imprensa enfrenta mais um assunto tabu: a maciça propaganda de produtos alimentícios dirigida ao público infanto-juvenil. A obesidade infantil é um problema seríssimo em todo o mundo desenvolvido mas o tema foi embargado no Congresso Mundial sobre tecnologia de alimentos que se realizará em agosto em Foz do Iguaçu. Razão do embargo: a discussão científica sobre obesidade infantil vai prejudicar os apoios que a indústria de alimentos costuma oferecer para a realização de congressos.

O que nos leva à questão final: quem está tutelando a cidadania – o Estado ou os interesses comerciais?