Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
Quando a mídia menciona o "clamor popular" é porque ela encarna este clamor ou trata-se de um recurso retórico para legitimar as suas próprias posições e interesses?
Não estamos falando na taxa de juros ou na construção da usina de Belo Monte no rio Xingu. A questão da mídia como voz ou porta-voz da opinião pública ocupou o noticiário de hoje e vai prolongar-se por mais alguns dias mas não nas páginas de política. Este importante debate vai ocorrer nas páginas ou programas esportivos. Tudo porque o técnico Dunga não atendeu à pressão da mídia e teimosamente preferiu outros 23 atletas para integrar a seleção que vai disputar a copa na África do Sul.
Este é um confronto que se trava de quatro em quatro anos desde que o Brasil começou a participar das copas do mundo e a escolha da seleção nacional saiu dos bastidores das entidades desportivas. O debate torna-se acalorado porque tanto o técnico como a imprensa têm razões muito ponderáveis.
Se o técnico Dunga é o responsável pelo triunfo ou pela derrota na partida final, é justo que as suas escolhas iniciais atendam à sua estratégia. Mas por outro lado é preciso ter em conta que sem a mídia o futebol não seria a estrela máxima dos esportes e as copas não seriam os maiores eventos do calendário esportivo mundial.
O técnico tem obrigação de ganhar os jogos e trazer a taça para o seu país mas a obrigação da mídia é transformar esta façanha num espetáculo eletrizante, inesquecível e, sobretudo permanente. Neste sentido é compreensível o entusiasmo de grande parte da mídia pela garotada do Santos. Além dos méritos pessoais, Neymar e Ganso representam novidade, renovação, continuidade. Dunga está preocupado com esta copa, a imprensa está pensando nas copas seguintes.
De qualquer forma, é uma excelente oportunidade para pensar e repensar o papel da imprensa na sociedade. Este exercício é a nossa copa.