Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
A imprensa deve gerar debates sobre todos os temas que noticia, é a sua obrigação funcional, pública. Mas hoje a imprensa e o jornalismo converteram-se eles mesmos em foco de grandes controvérsias. É ruim? Ao contrário, é extremamente salutar.
Quando o site americano Wikileaks divulgou os milhares de documentos secretos sobre operações militares no Iraque e Afeganistão e, ao mesmo tempo, negava que fosse uma organização jornalística, estabeleceu-se nova e fascinante discussão: qualquer informação é uma informação jornalística? Em outras palavras: é possível fazer jornalismo sem jornalistas?
Os cidadãos que mandam fotos, vídeos e informações sobre fatos que testemunharam também não são jornalistas mas este material devidamente trabalhado por profissionais torna-se um ingrediente essencial da imprensa.
Significa que a indústria jornalística, como todas as demais indústrias, precisa de matéria-prima, ferramentas e trabalhadores especializados mas só o produto final, acabado, pode ser considerado jornalismo.
A internet e depois as redes sociais esquentaram a discussão. Mas também a mídia tradicional envolveu-se na questão. Exemplo: quando uma emissora de Tv convoca uma atriz para apresentar um programa jornalístico não está engrossando o coro dos que acreditam que o exercício do jornalismo não requer jornalistas para o seu exercício?
Uma contribuição decisiva a esta doutrina foi oferecida no ano passado pelo ministro do STF, Gilmar Mendes, ao estabelecer a grotesca comparação entre jornalistas e mestres de cozinha. Segundo ele não são profissões, são atividades que podem ser exercidas por qualquer um com um pouco de prática.
Este é um bom debate sobretudo em temporadas eleitorais.