Wednesday, 01 de January de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 25 - nº 1319

O fiteiro e o investigativo


Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


Enquanto discutíamos o referendo do desarmamento em nossa última edição, a cidade de São Paulo estava sendo castigada por um dilúvio, o maior em 23 anos. Você tomou conhecimento indireto da catástrofe. Foi quando informamos, já no final, que por causa da chuva a Embratel ficou sem condições de transmitir o áudio da ultima intervenção do convidado presente à TV Cultura, o presidente da ONG que defende o armamento.


Não poderíamos imaginar que o dilúvio real vivenciado por alguns milhões de paulistanos seria convertido numa fuzilaria digital não menos perversa. Foi exatamente isso o que aconteceu. No dia seguinte, uma onda de e-mails evidentemente orquestrados, acusava este Observatório de parcialidade e censura. A tropa de choque dos armeiros esqueceu a chuva, as inundações e desconsiderou as brilhantes intervenções da deputada Denise Frossard que é contra o desarmamento mas defende as suas idéias de forma brilhante. O advogado Benê Barbosa, a favor do armamento, falou o mesmo número de vezes do que o deputado Raul Jungmann, a favor do desarmamento. Procuramos ser equitativos mas a turma do gatilho quer apenas fazer barulho. Como não conseguiu fuzilar São Pedro por causa do dilúvio, a turma do gatilho tentou fuzilar este Observatório. Não conseguiram, nem conseguirão.


Um vídeo de menos de dois minutos está sendo discutido há 3 semanas ininterruptas. A mídia não fala em outra coisa. Os desdobramentos do flagrante da propina nos Correios divulgado pela revista ‘Veja’ gerou uma crise política sem precedentes. Pergunta-se: este tipo de denúncia pode ser classificado como jornalismo investigativo? Já nas primeiras edições deste Observatório contestamos o tal ‘jornalismo fiteiro’ onde os jornalistas apenas veiculavam fitas, vídeos e dossiês preparados por gente quase sempre tão corrupta quanto os denunciados.


Hoje vamos tratar do jornalismo investigativo propriamente dito, aquele empenho idealista de desvendar o que está escondido. Estamos interessados no esforço quase sempre anônimo, muitas vezes solitário, exaustivo, arriscado, veiculado por órgãos de imprensa dispostos a investir na defesa do interesse público.


Por coincidência os três exemplos do jornalismo investigativo que vamos mostrar resultaram em livros que agora estão sendo lançados ou relançados: ‘Instinto de Repórter’, de Elvira Lobato repórter da Folha de S. Paulo, ‘Basta!’ de Joaquim de Carvalho então na Veja e hoje na Record e ‘Juízes no Banco dos Réus’ de Frederico Vasconcelos também da Folha. Eles não produziram CPIs mas resgataram os eternos paradigmas da boa reportagem e do bom jornalismo.


Isso não significa que apenas o formato de livro sirva como selo de qualidade do jornalismo investigativo. A sucessão de denúncias do Globo, inclusive sobre as fraudes nas últimas eleições em Campos, estado do Rio, comprovam que o bom jornalismo de investigação, independe do formato com que chega ao público. O ‘Vídeo da Propina’ é legítimo sob o ponto de vista legal. Sob o ponto de vista político é uma bomba-arrasa-quarteirão. Mas a este Observatório da Imprensa, neste seu sétimo aniversário, interessa lembrar que certos meios de buscar a verdade podem prejudicar a própria verdade.


Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm