A detenção do brasileiro David Miranda no aeroporto de Londres e a apreensão dos seus equipamentos com todo o valioso conteúdo não são questões que dizem respeito exclusivamente à imprensa. Qualquer cidadão, suspeito ou não, poderia sofrer os mesmos constrangimentos – e este é o problema. O caso não é privado, restrito, afeta a todos os cidadãos do mundo, viajantes ou não, defensores ou não dos direitos e garantias individuais.
David Miranda não é jornalista nem estava em missão jornalística, embora faça parte da família de Glenn Greenwald, no momento o jornalista mais em evidência em todo o mundo pela divulgação dos documentos que comprovam o controle americano das comunicações internacionais.
A luta contra o terrorismo que serviu de pretexto para a detenção de David Miranda não pode ser travada às custas da democracia; se assim for, o terrorismo sairá sempre ganhando, já que o seu objetivo final é enfraquecer o Estado de direito para impor o vale-tudo.
As denúncias contra a espionagem digital americana são dirigidas contra o gigantesco aparelho de segurança dos Estados Unidos que não é uma entidade estanque, isolada, é um sistema umbilicalmente ligado, alimentado e dependente das operadoras multinacionais de comunicação digital.
Cada clique que damos em nossos smartphones, tablets e notebooks, por mais inocente que seja, conecta-se de alguma maneira ao Leviatã que quer saber tudo mas não admite ser devassado nem questionado.
Esta edição do Observatório da Imprensa não é sobre David Miranda, é sobre você.