Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
O anãozinho da Branca de Neve era uma gracinha, mas não falava. O nosso chama-se igualmente Dunga, mas não chega a ser uma gracinha: não gosta que os outros falem. Não gosta nem de risos ou sorrisos.
A implicância do técnico da nossa seleção com a imprensa começou quando ele estabeleceu a doutrina segundo a qual humoristas não são jornalistas e, sendo assim, podem ser barrados na concentração. Começou assim a clássica dinâmica da censura: proíbe-se uma coisinha aqui, outra ali e de repente está instalado um autêntico sistema de intimidação e censura.As grosserias e agressões de Dunga aos jornalistas nos últimos dias não podem ser creditadas apenas a surtos ocasionais de mau humor. Na realidade, Dunga não gosta de ser arguido, questionado e contestado. E como a função dos jornalistas é justamente arguir, questionar e contestar Dunga evidentemente não gosta da imprensa. Nem da sátira, nem do humor.
Esta tensão transcende o campo dos relacionamentos e se transfere aos próprios esquemas táticos adotados pelo técnico. A rigidez que se viu no início dos dois jogos da seleção reflete claramente um comando pouco maleável, que contraria frontalmente a essência do futebol brasileiro onde as táticas são temperadas pela criatividade.
Enfrentar o bom humor com o mau humor geralmente produz espetáculos de péssimo gosto.