Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Você sabe o que significa comemorar. Co-memorar é lembrar junto. Re-memorar é lembrar novamente. Verbos afins e querem dizer que a memória não é estática, mas dinâmica. Cada retorno no tempo traz um enriquecimento, novas visões, perspectiva. 31 de março de 1964 é um dia crucial em nossa história mas a atual rememoração ou comemoração dos 40 anos do golpe que derrubou o presidente João Goulart não trouxe até o momento nenhuma contribuição significativa. Ao contrário. Quatro décadas depois, aquelas páginas negras ficaram esmaecidas e simplificadas. Daquela tragédia que estendeu-se ao longo de 21 anos retiraram-se os antecedentes, o elenco foi reduzido, certas passagens foram aliviadas e, sobretudo, foi abandonada a pergunta que o coro costuma repetir ao longo de cada tragédia – por que, por quê? Qual a mecânica que transformou nossa tradição de quarteladas incruentas, sem crueldades, numa sucessão incrível de crueldades? E o homem cordial onde foi parar durante os 21 anos? Sobre isso não se fala. O cidadão brasileiro hoje sabe menos sobre aquele longínquo dia na história do que o seu pai que foi testemunha ocular. Deveria ser o contrário. No jornal O Globo de hoje foi publicada uma pesquisa com 480 jovens de 15 a 21 anos realizada por uma universidade carioca. Os resultados são aterradores: 72% dos respondentes não sabiam o que aconteceu em 31 de março. 42% acertaram quando responderam que João Goulart foi deposto mas quase 35% disseram que o presidente deposto foi Jânio Quadros. 54% erraram ao indicar a principal conseqüência do AI-5. 75% erraram ao indicar o nome de um general importante do período 64-85. 35% apontaram o General Franco, ditador da Espanha, outros apontaram o General Osório. O General Golbery ficou em terceiro lugar. Na lista de personagens torturados até a morte durante a ditadura militar, 52% apontaram corretamente Vladimir Herzog mas outros 32% escolheram Tiradentes. Culpa de quem? Das escolas, dos professores, dos livros didáticos, das famílias ou da imprensa que não aproveitou algumas rememorações anteriores para explicar em profundidade o que aconteceu? A verdade é que a imprensa lembra o 31 de março de forma constrangida. Explicitar a derrubada de Goulart implica em explicitar a participação desta mesma imprensa na conspiração e na auto-censura que ocorreu depois de 68. São estes constrangimentos que produzem as mágicas onde o espanholíssimo General Franco torna-se nosso vilão. Esta edição do Observatório da Imprensa focaliza um dia na história, o dia em que tudo começou. Os restantes 7.664 dias da ditadura militar compõem os outros atos desta tragédia. Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm