A bandeira olímpica já está aqui. De agora até agosto de 2016 o problema é nosso. Exclusivamente nosso. Não fomos escolhidos à revelia, sonhávamos com a Olimpíada, lutamos arduamente por ela, deliramos quando o Comitê Olímpico preteriu Chicago, Tóquio, Madri e colocou o Rio de Janeiro neste pódio que tem algo de banco dos réus: não seremos julgados pelas façanhas de nossos atletas, mas pela competência de nossas autoridades. Competência técnica, competência moral.
Já se passaram três anos, ainda temos quatro pela frente – chegaremos lá? Esta não é uma questão existencial, é uma espécie de cobrança. O brasileiro é um torcedor nato, vibra com o que se passa no gramado, nas quadras, pistas e piscinas mas não é um participante, cooperante ou militante. Não se sente responsável, prefere condenar a irresponsabilidade do outro.
O sucesso da Olimpíada londrina não se resume ao espetacular salto no número de medalhas. O que chamou a atenção dos jornalistas brasileiros foi a intensa participação cívica e comunitária dos londrinos em todas as fases da preparação. Torceram nas competições e vestiram a camisa da cidade, anos antes enquanto eram tomadas decisões importantes sempre respaldadas pela população.
Adoramos discutir a arbitragem, o trabalho dos preparadores e até o penteado dos atletas. Mas numa sociedade hierarquizada como a nossa, conviria estimular os torcedores a se converterem em cooperantes – agentes ativos, convictos e não apenas espectadores passivos, manipulados pelos resultados.
A experiência olímpica deve servir para melhorar a nossa auto-estima mas principalmente refazer o nosso modelo de convivência e participação.