Thursday, 09 de January de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 25 - nº 1320

Os poderosos chefões

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

A sensação é generalizada e resulta em grande parte da cobertura da mídia: a batalha foi ganha mas estamos longe de uma vitória na guerra contra o narcotráfico.

A reconquista da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão constitui um triunfo militar mas as guerras travam-se em muitas frentes e nem sempre se limitam à esfera territorial. Os trunfos dos bandidos ainda não foram neutralizados, estão intocados e o mais importante deles é o acesso aos vastos recursos financeiros obtidos com a lavagem do dinheiro do tráfico de drogas.

Os poderosos chefões não estão nos morros, nas favelas ou mesmo no Rio de Janeiro. Estão em lugar seguro e, ao contrário dos chefinhos e chefetes pés de chinelo, vivem nas altas rodas e gozam os benefícios das grandes fortunas.

E por que não se consegue rastrear o sistema e pegar os responsáveis pela continuidade do narcotráfico?

Nesta pergunta estão contidas as críticas do ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, à polarização e à simplificação desenhadas pela mídia: segundo Soares, além de encurralar os bandidos, o Estado precisa desentocar e desativar o sofisticado sistema de branqueamento do dinheiro do crime. Sem dinheiro não se compram armas e drogas, sem dinheiro não se atraem tantos "soldados" para o crime organizado.

Operações militares são geralmente espetaculares, rendem imagens, produzem resultados imediatos, retumbantes. Já o rastreamento do dinheiro sujo é trabalho de formiguinha, demorado, que muitas vezes é burlado por policiais corruptos que vendem impunidade aos chefões.

A mídia evita esta área cinza. E nesta área cinza é que se percebe o quanto ainda falta fazer para vencer a guerra.