Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
O pesadelo acabou, o caso teve um final feliz. Mas a cobertura do seqüestro da filha do empresário Sílvio Santos deixa levantada uma questão grave e que envolve a credibilidade futura da mídia.
Por essa razão, em nossa edição anterior, quando se discutia o grau de confiança que a sociedade brasileira deposita na sua imprensa, decidimos incluir nos dois blocos finais uma discussão sobre o pacto de silêncio assumido por alguns veículos em torno do seqüestro.
Hoje podemos entrar no assunto sem os cuidados da semana passada. Em primeiro lugar, é preciso saudar o fraccionamento da mídia manifestado nos diferentes comportamentos: alguns grupos jornalísticos puseram a boca no trombone enquanto que outros omitiram-se completamente do seu compromisso de informar.
Esta diferença de atitudes é salutar, mais do que isso, é vital para preservar a diversidade e a essência pluralista de uma instituição como a imprensa. Mas além disso há poucos elogios a fazer. Tanto os veículos do grupo Globo ou o JB, que recusaram o apelo de Sílvio Santos, como os veículos baseados em São Paulo, que atenderam ao seu pedido, ignoraram que entre uma cortina de silêncio absoluto e o ruído sensacionalista há no meio muitas opções e nuances.
O grupo Globo não precisava fazer aquele oba-oba como se dissesse ‘estão vendo como não cedemos às pressões e somos confiáveis?’ Mas os outros não precisavam adotar a auto-censura mesmo que sob o pretexto humanitário.
O caso da Folha de S. Paulo ganha relevância porque este jornal assume-se como símbolo da transparência jornalística. no caso não foi.
Entre estes comportamentos extremos existe uma espaço enorme para inúmeras variantes. prova disso foi a Veja – publicou tudo sem apelação.
O jornalismo, porque é também uma arte narrativa, comporta infinitas nuances. Pode-se contar a mesma história tanto aos berros como de forma discreta.
Também nesta questão deve existir uma terceira via que para nós é a via do livre arbítrio e da moderação. Ontem, houve dois seqüestros em São Paulo sendo que um deles de um rico empresário. Por que razão não houve o mesmo pacto de silêncio? Será que os jornais são sensíveis aos apelos humanitários apenas quando se trata de gente famosa e empresários de comunicação? Isso coloca a mídia que silenciou em posição desconfortável e envolve com suspeitas aquela que trombeteou.
Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm