Este Observatório da Imprensa está de luto. Os jornalistas estão de luto. Os leitores, ouvintes e telespectadores estão de luto. Enquanto o corpo do repórter Tim Lopes não for enterrado condignamente a sociedade brasileira estará de luto fechado velando sua memória e lamentando perplexa.
Por que Tim estava lá?
Jornalismo é a arte de indagar. E esta pergunta, curta e dramática, foi formulada pelos jornalistas cariocas que acompanham as investigações sobre Tim Lopes. A pergunta resume tudo, sugere tudo. Síntese arrasadora desta tragédia que se abateu sobre todos nós, ela contém todas as definições sobre a função da imprensa, nela estão resumidos os tratados de jornalismo. Substitui os manuais de redação e as apostilas dos quatro anos do currículo das faculdades.
Por que Tim estava lá?
Ele estava lá porque era a sua tarefa, sua pauta. A pauta que ele mesmo fez para si. Estava lá porque o papel do repórter é estar na rua, em ação. Nas redações dá-se forma à informação, mas a informação e a notícia buscam-se em campo, onde ela acontece, batendo pernas, correndo riscos.
Por que Tim estava lá?
Tim estava lá porque os moradores da Vila Cruzeiro pediram que fosse lá para registrar o ponto de encontro entre o narcotráfico e o narcoconsumo. Tim Lopes, com seu faro de grande repórter, percebeu que uma das confluências entre os diferentes submundos poderia ser flagrada em bailes funk. O jornalista é o olho da sociedade, por isso Tim estava lá, olhando em nome de seus concidadãos. E se não estivesse lá onde é reclamado nem as autoridades saberiam a extensão dos problemas.
Por que Tim estava lá?
E por que não estava no bem-bom? Por que não preferiu os confortáveis gabinetes transcrevendo grampos e dossiês? Por uma única razão: Tim Lopes e outros iguais a ele sabem que jornalismo é muito mais do que profissão, jornalismo é dever cívico, obrigação moral, estado de espírito, inconformismo, rebeldia, estilo de solidariedade, forma de estar alerta. Ao contrário daqueles que afirmam que o jornalismo deve ter limites este Observatório acredita que, além dos limites éticos, o jornalismo é ilimitado, exercício irrestrito, mesmo quando há censores fardados ou togados. Jornalismo é um desafio existencial.
Por que Tim estava lá?
Tim não foi atrás dos picos de audiência, não foi fazer um programa de auditório, ele sabia que não ia à Casa dos Artistas ou do Big Brother. Ele atendia a uma opção pessoal.
Repetindo o poeta John Donne quando perguntou por quem os sinos dobram, não perguntem por que Tim estava lá, perguntem por que vocês não estavam lá também.
Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm