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Não parece muito equilibrado o nosso noticiário sobre o entrevero entre a presidente Cristina Kirchner e grande parte da mídia argentina. A legislação que está sendo derrubada a toque de caixa vige há muitos anos e convinha tanto aos grupos de comunicação como aos governos neo-peronistas do casal Kirchner. Se não havia paz, pelo menos não havia guerra.
A convivência foi quebrada quando os interesses de continuidade do grupo Kirchner criaram uma dinâmica que inexoravelmente se chocaria com o que foi acordado entre as partes. De repente, a antiga concentração da mídia foi transformada em dragão da maldade para a alegria das construtoras e empreiteiros próximos da Casa Rosada.
A nova legislação imposta por cristina Kirchner foi de fato sancionada pelo Legislativo e pelo Judiciário, mas esta "legitimidade" não é pacífica. Convém lembrar que o golpe contra o presidente paraguaio Fernando Lugo também foi apresentado como legítimo. Não foi, como vimos aqui em edição anterior.
No caso argentino, o mais grave de tudo foi o ultimato dentro do ultimato: o grupo Clarín deveria desfazer-se de grande parte do seu formidável arsenal audiovisual até o dia sete de dezembro deste ano. Ignorando a decisão que concedia o prazo de um ano para consumar esta alienação, o Executivo argentino passou a exigir que a transferência das concessões se consumasse agora. O novo prazo foi anunciado pela Casa Rosada no final de setembro, durante uma partida de futebol.
Enquanto no Brasil estamos tentando esfriar o clima de exacerbação típica do Fla-Flu, nossos hermanos estão engalfinhados num confronto mais aguerrido do que o clássico Boca Juniors versus River Plate.