Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Repórter desaparecido

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


Você espera que o programa de hoje trate da Copa do Mundo. Acertou. Vamos tratar da maior festa do futebol mundial. Mas, comprometidos com o jornalismo, não podemos ignorar outra violência cometida contra jornalistas. Esta, dramática, e com toda a aparência de tragédia. Até há meia hora, 10 da noite, não havia noticias sobre o paradeiro do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, desaparecido na noite de domingo quando investigava denúncias sobre ligações dos bailes funk e o narcotráfico. Suspeita-se que tenha sido assassinado pelos delinqüentes. Tim Lopes subiu à Favela da Vila Cruzeiro no domingo à noite atendendo aos dramáticos apelos dos moradores preocupados com a ligação dos bailes funk, aparentemente inocentes, com o crime organizado. Não voltou na hora marcada e não deu mais notícias.


Nossos primeiros programas trataram do narcotráfico e, ao longo destes anos, estamos sempre batendo na mesma tecla: o narcotráfico não existe sem o narcoconsumo. Cabe às autoridades o combate ao tráfico de drogas, mas cabe a todos os cidadãos, de todas as classes e em todos os quadrantes, empenhar-se para combater o consumo de drogas, todas as drogas, pesadas e leves. Tim Lopes está desaparecido porque investigava aquilo que diz respeito a todos: o consumo.


Apesar dos índices de audiência obtidos no primeiro jogo às seis horas da manhã de um dia útil, a grande verdade é que esta Copa, comparada com a última, está despertando menos entusiasmo do torcedor espalhado pelo Brasil afora. O horário prejudica certamente, mas não é o único vilão. A troca de técnicos e o desempenho claudicante da Seleção ao longo da fase preparatória acrescentam uma dose de ceticismo que foi muito ajudada pelo descrédito dos dirigentes do futebol brasileiro, que desde a última Copa estão sob suspeita, investigados por duas CPIs.


Outro fator, este decisivo, diz respeito ao objeto deste Observatório. As transmissões dos jogos por rádio e TV estão monopolizadas pelo grupo Globo. O radinho de pilha, símbolo da vontade do cidadão brasileiro de manter-se plenamente informado, agora só tem uma opção, com os mesmos informadores e os mesmos comentadores. Estamos assistindo a um jornalismo de um lado só, versão sem opção.


Isso é péssimo para o jornalismo em geral, e não apenas o desportivo. Como sempre afirmamos, este Observatório não é tribunal para julgar e proferir sentenças. Mas, se o nosso papel é refletir sobre a mídia, é preciso dizer que se um grupo conseguiu montar um monopólio outros grupos não tiveram o empenho e a competência para enfrentá-lo. Os dois fatos são de suma gravidade.


Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm