Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
A questão da pedofilia tem aspectos teológicos, morais e criminais. Mas a pedofilia chega a este Observatório por suas implicações jornalísticas.
A Igreja adotou com relação à pedofilia a mesma arma utilizada no passado no tocante à inquisição: o sigilo. Os réus do santo ofício que escapavam da pena capital eram obrigados a assinar um termo de segredo, compromisso de jamais revelar as torturas que sofreram, o sequestro de seus bens e os injustos procedimentos a que foram submetidos. Este sigilo funcionava no século 16, 17, 18 e mesmo no início do 19. Mas na sociedade moderna, obrigatoriamente aberta e participante, crimes não podem ser mantidos eternamente sob o manto de segredo.
A explosão do noticiário sobre pedofilia não é fruto de uma conspiração contra o Vaticano como alegam alguns fanáticos. É fruto de um represamento que tornou-se insustentável.
A mídia bem que tentou manter o regime de auto-censura nas questões mais sensíveis da igreja, mas não aguentou: a quantidade e a intensidade das informações eram grandes demais. As comportas cederam, a avalanche que hoje assistimos é mera consequência de anos de acumulação de sigilo. Sigilo e complacência. Complacência e impunidade.
Nada ilustra melhor os malefícios do sigilo como o escabroso caso de Arapiraca, Alagoas, revelado em meados de março no SBT pelo programa Conexão Repórter, de Roberto Cabrini. A grande mídia simplesmente abafou-o, apesar da repercussão na mídia internacional e mesmo depois que a Veja ousou quebrar o pacto de silêncio.
O estado brasileiro finge que é secular mas a mídia brasileira não pode fingir: ou trata todas as confissões de igual forma ou assume-se como protetora de uma delas.