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Na reta final da campanha eleitoral, a pergunta que se fazia em milhões de casas brasileiras depois dos telejornais da noite não era "quem vai ganhar?" e sim, "quem matou Saulo?". O grande enigma da telenovela Passione, no ar há 7 meses, ultrapassou as eleições e ainda está em cartaz.
O Brasil não inventou a telenovela, ela é filha das radionovelas, ambas herdeiras das revistas de fotonovelas, todas descendentes dos romances em folhetim que, no século 19, tornaram célebres escritores do porte de Balzac, Dickens e Dostoievski. Todas têm como ancestrais as tragédias gregas e o seu formidável acervo de incestos, vinganças, doidas ambições e paixões desvairadas.
Na tv americana, as novelas eram chamadas de soap-operas, geralmente patrocinadas por sabonetes – daí o nome – que duravam anos. As nossas são mais curtas. Mas a nossa contribuição não pode ser minimizada: trouxemos ao gênero o esmero do cinema com superproduções, às vezes gravadas no exterior, acrescentamos as técnicas de marketing que permitem desenvolver as tramas de acordo com o gosto da audiência e oferecemos horários nobres, nobilíssimos, pouco antes ou durante o jantar, quando a família se reúne e, em vez de conversar sobre os seus problemas, discutem as emoções trazidas pela telinha.
Hoje temos 10 novelas inéditas correndo simultaneamente em quatro redes abertas, além de algumas outras reprisadas em canais abertos e por assinatura. É uma indústria com dimensões hollywoodianas servindo de veículo para grandes anunciantes, movimentando riquezas e trazendo grandes lucros do exterior.
Com enredos geralmente empurrados por crimes e com personagens criados basicamente para produzir surpresas e reviravoltas, as telenovelas são iguais no conjunto mas surpreendentes quando acompanhadas no dia a dia. Graças às simplificações – da dramaturgia e da realidade – quando chegam ao clímax conseguem manter ligados praticamente a totalidade dos televisores, mudam os hábitos e rotinas dos telespectadores e até influem na pauta nacional graças à intensa exposição na mídia impressa.
Fenômeno mediático, controverso, tema obrigatório do Observatório da Imprensa.