O Globo e as eleições argentinas
De Laura Tavares Soares, professora e doutora em Economia, Campinas, SP.
A “isenção” da cobertura de O Globo sobre as eleições argentinas é tanta que ele tem a desfaçatez de fazer (sexta-feira, 20/11) uma matéria escrita por uma repórter convidada pela campanha da aliança “Mudemos”, do Macri! Entre várias mentiras e tergiversações, a legenda da foto do Macri é “Pés no chão” e a do Scioli é “Retórica”. [Em tempo, a repórter não sabe traduzir do espanhol: “Subsídios”, no caso, são benefícios sociais – quando coloca declaração do Scioli de que o medo surge quando Macri diz que vai cortar salários e “subsídios”.]
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Morte creditada a torcedores palmeirenses
De Jair Moreno, analista, São Paulo, SP
Segundo o portal UOL, “taxista agredido por palmeirenses em um posto de SP morre”; segundo o site ESPN Brasil, “torcedor do Santos agredido a pauladas por suposto palmeirense morre em São Paulo”; para o site Terra, “morre torcedor do Santos agredido por palmeirense em SP”; de acordo com o portal iG, “supostos torcedores do Palmeiras foram filmados agredindo Gerson Ferreira de Lima com um pedaço de pau”; e no domingo (15/11), a Gazeta Esportiva divulgou que “torcedor do Santos morre em ataque: palmeirenses são suspeitos”. Sem qualquer tipo de apuração, o que contraria os princípios básicos do jornalismo, os veículos acima (e outros) não se importaram em eventualmente criar um clima de tensão entre as torcidas que se encontrarão nas finais da Copa do Brasil. A irresponsabilidade foi proporcional ao amadorismo cometido em associar um crime bárbaro a uma torcida inteira por causa de uma simples cor de camisa. Passados quase dez dias do crime, os suspeitos foram presos e o caso elucidado. A motivação não teve como pano de fundo o futebol. Quanto à camisa verde que o assassino vestia, era simplesmente essa. Além do coitado assassinado covardemente com uma paulada na cabeça, morreu também o profissionalismo e a credibilidade dos veículos que quiseram desempenhar o papel de polícia sem ao menos ter competência para exercer o jornalismo. Se ocorrer morte de palmeirenses nas próximas finais da Copa do Brasil, devido à revolta com uma informação passada de maneira desleixada e irresponsável, esses órgãos da imprensa têm parcela considerável de culpa.
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Nem todo político é fascista, mas todo fascista é político
De Kleber Marin, professor de Filosofia e Educação Básica.
O que é a comunicação? E esse tal de discurso político? A comunicação é um campo do conhecimento que estuda como as pessoas se relacionam, trocam informações. E o discurso trata de uma exposição metódica, muito utilizada por políticos que defendem determinadas ideias em público. Ou seja, o discurso tem a sua origem na sociedade. Se o discurso é um instrumento político, então é através dessa ferramenta que se constrói a democracia. Do discurso, as pessoas realizam os seus planejamentos, as empresas definem as suas estratégias de mercado e os trabalhadores realizam as suas dívidas de médio e longo prazo, projetam seus sonhos. E, principalmente, é com o discurso que se defende a liberdade e a igualdade de direitos. Igualdade cujo processo é histórico e está longe de chegar a um ponto final. Como o combate contra as doenças e os problemas na educação. Tarefas que competem a todos os cidadãos e, principalmente, àqueles que optaram por defender os interesses da população ocupando cargos eletivos. Mas, com efeito, em razão da descrença deste modelo de política representativa, acreditar que alguém irá resolver esses e outros problemas sociais está cada vez mais difícil. Principalmente, quando cresce o número de discursos fascistas por políticos intolerantes, “representantes do povo”. Por exemplo, políticos que detestam a educação – aqueles para quem se alguma categoria de professores queira conversar sobre o futuro da sociedade não existe conversa, pois não aceitam críticas sobre o que está sendo decidido. Esses políticos, muitas vezes, fecham conchavos com outros poderes. Combatem a todo custo, com o preconceito de não dialogar com ninguém a não ser com o grupo ao qual pertence. E ainda, com o autoritarismo, sob a máscara de “representante do povo”, impedem que direitos sociais sejam assumidos, como a liberdade de dizer o que se pensa sobre a sociedade em espaço público. Portanto, o discurso é um instrumento político que nem sempre se constrói a democracia, para o que basta ver o número crescente de discursos fascistas ancorados na intolerância
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Os “padrões da comunidade”
De Félix Soibelman, advogado, editor da Enciclopédia Jurídica Soibelman, Rio de Janeiro, RJ
Será Zuckerberg o maior “gênio imbecil” da história? Para entender: o tempo todo noticiam que jihadistas fazem tudo pelo Facebook, recrutam pessoas e até exibem bombas e armas etc. Igualmente denúncias sobre nazismo, racismo etc. recebem da administração do Facebook a resposta de que “não viola os padrões de nossa comunidade”. A verdade é: Zuckerberg não é pessoa à altura do que tem nas mãos. A rede deveria criar filtros de boicote a este tipo de coisa, mas ele deixa a coisa correr solta. Deveria ser responsabilizado pessoalmente por isto. Busco agora contatos na imprensa, pois judicialmente não me é difícil fazer alguma coisa, mas acho que a imprensa brasileira, quanto às denúncias que fazemos e recebem a resposta acima, deveria ser conscientizada. E a imprensa internacional, começar a ver que um poder muito grande foi colocado nas mãos de um “gênio imbecil”. Certa vez disseram que a guerra é algo muito importante para ser deixado nas mãos dos generais, que são somente operacionais. Zuckerberg parece ser o mesmo caso. Enquanto ele cruza os braços na sua taciturna idiossincrasia e jeito esquisitão de yuppie que nem mereceria ser objeto de atenção, jihadistas usam seu veículo para promover rios de sangue, organizar-se etc. Já aqui no Brasil esta administração incompetente só fica bloqueando fakes etc., mas quase não reprime manifestações nitidamente criminosas. Pode ser que milhares de pessoas tenham se juntado ao Estado Islâmico pela rede de Zuckerberg. Pode ser que mais de 120 pessoas tenham morrido em Paris com o auxílio das facilidades que ela oferece. Usarem os governos o Facebook para monitorar radicais, e por isto a permissividade, se for o caso, parece não estar funcionando muito. O Estado Islâmico só cresceu e o Facebook tornou-se o maior poleiro de nazistas. Enquanto isto o gênio bobalhão veio a campo reclamar que brasileiros estragam a rede porque fizeram gozação com o casamento dele. Este é o tamanho do universo mental de Zuckerberg, aquilo capaz de receber dele a energia para se manifestar. Patético, comporta-se no mundo como um adolescente sofrendo bullying. Conta-se que Dreyfus, por quem o mundo todo se interessou, quando liberto, não teve a capacidade de aderir a nenhuma grande causa, sendo o militarista burocrático mais chinfrim. Pois é, se a história é feita de interesses e poder, por outro lado não restam mais dúvidas de que a personalidade de alguns homens presentifica-se nela. E no caso de Zuckerberg, de forma lamentavelmente medíocre e ausente, naquilo que tem realmente importância.