Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O massacre dos povos indígenas já começou

(Foto: Alan Santos/PR – Fotos Públicas)

Não são os comandos de Hitler exterminando os judeus e ficando com seus bens, mas é como se fossem. Comandos fascistas bolsonarianos compostos de garimpeiros, grileiros, posseiros agropecuaristas atacam indígenas em seus povoados e assassinam para ficar com suas terras.

Animados com a indiferença do governo Bolsonaro, sentem-se livres para continuar seu extermínio e praticar um genocídio a céu aberto, denunciado pela imprensa e pela ONU, mas, ao que se saiba, sem repressão.

Testemunhas sem voz, ao mesmo tempo vítimas do massacre do desmatamento, as árvores agitam suas folhas e seus galhos, os animais gritam numa tentativa de imitar a voz humana para pedir socorro. Os pássaros não gorjeiam como no canto de Gonçalves Dias, mas emitem sons desesperados diante do crime hediondo cometido contra os índios e contra a natureza.

A terra encharcada com a seiva das árvores e com o sangue dos animais que não conseguem fugir a tempo recebe agora o sangue vermelho dos indígenas donos da terra desde tempos ancestrais, mortos no crepitar das metralhadoras.

Quem está comprando os milhões de troncos de árvores degoladas e decepadas no barulho das serras mecânicas? De quem serão esses quilômetros e quilômetros quadrados de terras arrancadas à força da natureza?

Na Alemanha de Hitler, os nazistas entravam nas casas derrubando as portas com suas botas. No Brasil irreconhecível de hoje, fascista e bolsonariano, são os tratores que derrubam as frágeis palhoças indígenas. Dentro de pouco tempo, não haverá mais árvores, nem pássaros, nem animais, substituídos por manadas de bovinos, plantações de soja, escavadoras em busca de ouro e minerais preciosos.

Restarão uns poucos índigenas desalojados de suas tabas e suas terras, fugitivos aterrorizados, prontos para ouvir a palavra de Deus, serem doutrinados, catequizados, evangelizados e tornarem-se bons cristãos civilizados, bons para serem explorados, se embebedarem e se prostituirem.

Diante de tantos crimes, é de se duvidar mesmo da existência de Deus, pois são seus fiéis seguidores que os praticam ou se contemporizam com os assassinos em nome de Cristo. É o caso de se clamar como Castro Alves,

“Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em que estrela tu te escondes
embuçado nos céus?
Hoje em meu sangue a América se nutre,
condor que transformara-se em abutre,
ave da escravidão”.

Diante do silêncio de Deus, teimando em não sair de sua neutralidade mesmo diante de atos bárbaros e covardes contra populações indefesas, resta-nos esperar, embora seja do domínio da fantasia, que a própria natureza se revolte contra os invasores.

Tal qual na alegoria do filme Avatar, de James Cameron. Como na Amazônia, a lua gigante Pandora, do sistema solar Alpha Centauro, tornou-se alvo da cobiça por possuir um mineral importante para resolver o problema energético da Terra.

Mas há um problema: Pandora é habitada por uma espécie de humanóides que vivem em perfeita comunhão com a natureza. Em outras palavras, a lua Pandora tem dono – nela vivem índios que se comunicam com a natureza.

Na impossibilidade de poder negociar com os nativos a exploração do precioso mineral, os militares do nosso planeta decidem acabar com os indígenas de Pandora e tocar fogo na floresta.

No começo, tudo parece muito fácil, pois os índios de Pandora não são guerreiros, não sabem lutar, é como tirar um doce de uma criança. Porém, de repente se faz sentir a participação da natureza em favor dos nativos locais, vegetais e animais tornam-se ativos contra os exploradores.

E, como é filme, acabam derrotando os humanos.

Não somos criancinhas para acreditar numa vitória da floresta amazônica e de seus filhos humanóides indígenas, por ela gerados, contra os posseiros, garimpeiros, agropecuaristas grileiros enviados pelo deus da civilização do consumo com suas cruzes da morte e do fascismo.

No filme simbólico, no qual Cameron inverte a fábula do lobo contra o cordeiro, não se pode esquecer, os índios nativos contam com o apoio de alguns terrenos destemidos, contrários à destruição das florestas e dos seus filhos, e dispostos a lutar para protegê-los. Em síntese, gente como nós. Cada um de nós pode, na medida de nossas poucas forças, agir como o soldado Jake Sully, em favor dos indígenas armados só de arcos e flechas contra metralhadoras.

Denunciando o genocídio em casa, para os amigos, na escola, no trabalho, na internet, na ONU, e assim até as formigas, vespas, abelhas, macacos, sucuris e jiboias irão nos ajudar na proteção da Amazônia e de seus indígenas contra o dragão da maldade Bolsonaro e seus seguidores fascistas.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Foi criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.