Publicado originalmente no site Balaio do Kotscho
Manhã de domingo. O silêncio só é quebrado quando passa um maluco bêbado gritando no meio da rua: “eu tenho uma nega chamada Teresa”.
Conversei com muita gente neste final de semana e está todo mundo se perguntando o que pode acontecer na próxima, depois destes últimos dias atormentados.
Se alguém souber a resposta, por favor me informe. Tem alguma coisa estranha no ar, mas ninguém sabe o que é.
No noticiário anódino dos jornais de hoje, não há nenhuma pista.
Ficamos sabendo apenas que vai ser anunciado o novo “Pacotão do Guedes”, que propõe “uma reforma profunda ao país”.
De reforma em reforma, vão destruindo o que sobrou do Brasil após dez meses de desgoverno.
Nem li a matéria da manchete da Folha para não me estragar o domingo.
Com seu encantamento pelo modelo econômico ultraliberal do Chile, onde Guedes deu aulas nos tempos de Pinochet, dá para imaginar o que vem por aí.
O Posto Ipiranga só está querendo mudar de assunto, preocupado em “acalmar” os mercados diante das barbaridades faladas e praticadas nos últimos dias pelo clã dos Bolsonaro.
Guedes teme que os desatinos presidenciais prejudiquem o leilão do pré-sal marcado para quarta-feira, em que espera arrecadar R$ 30 bilhões num tesouro submerso avaliado em trilhões.
Na mesma semana, o STF deverá finalmente terminar o julgamento da segunda instância, que pode libertar o ex-presidente Lula.
Enquanto isso, o capitão-presidente corre para apagar todas as provas do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes tramado no condomínio onde ele e um filho têm casas.
Depois de ver seu nome envolvido numa reportagem do Jornal Nacional, ele alucinou, declarou guerra à emissora e resolveu entregar as investigações aos cuidados dos fiéis subordinados Sergio Moro e Augusto Aras, que já o inocentaram previamente.
Entre um passeio e outro na motocicleta nova que comprou e agora desfila por Brasília, o capitão não diz coisa com coisa aos repórteres, mistura reforma trabalhista com geração de empregos e faz ataques à imprensa e às instituições.
Personagens-chave do roteiro macabro, o motorista Fabrício Queiroz e o porteiro sem nome desapareceram do mapa.
Para evitar surpresas, Lauro Jardim informa no Globo deste domingo que Bolsonaro mandou Queiroz sumir com seu celular, mas não entregou ainda o dele às autoridades para acabar com as suspeitas sobre seu papel nesta história. Seria tão simples…
No JN de sábado, a Globo já baixou a bola e deixou Jair Bolsonaro falar à vontade, mas tem gente imaginando que novas revelações podem estar guardadas para o Fantástico.
Vida que segue.
***
Ricardo Kotscho é jornalista.