Quando o mundo assistiu ao lançamento do primeiro smartphone — o IBM Simon, em agosto de 1994 —, a internet comercial dava seus primeiros passos no Brasil e a mídia impressa, aqui e alhures, nadava de braçada num mar de almirante, com taxas de retorno sobre o patrimônio líquido cada vez mais robustas, a indicar uma perspectiva de perpetuidade dos lucros que só mesmo os catastrofistas seriam capazes de colocar em dúvida. A indústria jornalística, do ponto de vista material, vivia seu auge; no aspecto moral, já não conseguia esconder suas derrapadas. Mas, tudo bem: os tempos eram risonhos.
Vinte e cinco anos depois, o tempo de uma geração, o planeta mídia virou de pernas para o ar. E o jornalismo foi levado de cambulhada enquanto todos aprendíamos, na prática e na carne, o exato significado da palavra “disrupção”.
Aquela mídia jornalística pujante, detentora inconteste do monopólio da distribuição de informações e mediadora por excelência do debate público, aquele baluarte da democracia, aquilo tudo foi para o vinagre. Para sobreviver, precisou reinventar-se –e este esforço ainda está longe de terminar. A rigor, quem ainda consegue manter-se vivo e de pé, com alguma perspectiva de futuro, foram os que resistiram ao canto da sereia do infotainment e mais investiram em jornalismo. Isso porque o jornalismo profissional de qualidade ainda é um bem de valor no mercado da informação, a despeito da concorrência predatória da mentira e da desinformação, hoje transformados em ativos tóxicos de enorme aceitação popular a partir da emergência de mídias sociais que crescem exponencialmente sem controle algum e isentas de qualquer regulação.
Desafios
Nesses tempos fugidios, aquele gadget curioso de 25 anos atrás evoluiu e tornou-se uma plataforma relevantíssima de comunicação e de leitura de notícias, análises e reportagens. O mundo agora cabe no bolso.
O jornalismo de qualidade haverá de aprender a conviver com esse novo cenário, com novos e difusos concorrentes. Para enfrentá-los, precisa investir talento e criar novas formas de narrativa –o que os mais atilados já vêm fazendo, aliás.
O melhor recurso com que conta a mídia jornalística para arrostar a indústria da mentira que viceja no ambiente da pós-verdade e contamina o debate público é praticar com afinco o que ela sabe fazer de melhor: jornalismo. Em complemento, articular o investimento em qualidade com a aceitação de dois desafios que exigirão doses incomuns de criatividade e de traquejo político. O primeiro, conquistar os jovens para as excelências do bom jornalismo; o segundo, atuar em prol da institucionalização da disciplina de educação para a mídia (media literacy) nos currículos escolares do ensino fundamental.
E é pra já. O tempo urge.
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Luiz Egypto é jornalista.