Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornal suíço: Evangelismo da Universal é cilada para jovens

(Foto: Pública Agência de Jornalismo Investigativo)

O importante jornal suíço Le Temps deu manchete de primeira página e publicou reportagem de duas páginas inteiras para denunciar – sob o título “A Cilada Evangélica” – as atividades em Genebra da sucursal da Igreja Universal de Edir Macedo, principalmente junto a jovens em dificuldade.

A manchete da primeira página diz: Esses jovens em dificuldade são atraídos pelos evangélicos. A acusação é grave e vem logo abaixo da manchete: o Centro de Acolha Universal (como se denomina a vertente evangélica junto aos jovens suíços) age como outros movimentos de proselitismo, aproveitando-se financeiramente da “miséria humana”.

Ainda na manchete se lê: essa igreja de origem brasileira próxima dos movimentos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, pratica o dízimo, oferta igual a 10% da renda mensal aos seguidores aos quais promete uma porção de maravilhas.

Para fazer a reportagem, um jornalista, Sami Zaibi, do Le Temps, se fez passar por um jovem em dificuldades e com tendência suicida, “foi assim que entrou num mundo pretensamente ideal sob a proteção de Jesus Cristo”.

A reportagem de Zaibi conta a trajetória de Edir Macedo, que se tornou rico e passou a controlar parte da mídia com a TV Record, “com seu discurso demagógico e carismático”. Criado em 1977, logo o movimento se expande para todo Brasil, ergue em São Paulo o chamado Templo de Salomão e, a seguir, se exporta para o Exterior, enquanto dentro do Brasil se une à política e ajuda a eleger o atual presidente Bolsonaro.

A reportagem lembra já ter sido publicado um alerta na imprensa suíça sobre as atividades do Centro de Acolha Universal e se inquieta pelas autoridades suíças não terem tomado quaisquer iniciativas, embora na França, assinale Le Temps, esse movimento seja seguido e provoque inquietações. Isso porque a França é estrita no seu conceito de separação de Igreja e Estado ou Estado laico.

Esse tipo de movimento evangélico foi implantado na França em 1990, porém, em 1995, um inquérito determinado pelo parlamento francês concluiu por sua proibição por se tratar de uma seita. Isso não significou sua extinção, pois mudou de nome em 2004, ocultando suas atividades religiosas debaixo de uma pretensa atividade assistencial às pessoas em dificuldade. 

Mesmo assim, foi alvo de numerosas intervenções por suspeitas da parte da Missão interministerial francesa contra atividades de seitas. “A causa foram declarações de pastores de que o Covid só é transmitido e só infecta pessoas não crentes em Deus e de que as vacinas são satânicas”.

Embora a imprensa brasileira não tenha acompanhado, existe uma exportação evangélica brasileira para todo mundo, inclusive para a Rússia, como parte de um grande plano religioso de expansão. Se esse movimento fosse apenas religioso não haveria preocupações, entretanto a mensagem evangélica é acompanhada da propagação da defesa de costumes conservadores e ideais fundamentalistas, próximos da extrema-direita com tendência a influir também nas políticas locais, tendo como base a defesa do liberalismo contra quaisquer opções de socialização.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro sujo da corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A rebelião romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.