Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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ESPECIAL 3+5

DEPOIMENTOS
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Ancelmo Gois (*)

Já disse uma vez num seminário e repito aqui. Antes da coluna "Jornal dos Jornais" a imprensa brasileira não se submetia praticamente a nenhum controle externo ou interno. A exemplo do agente 007 o jornalista tinha "direito" a atirar para matar. O pioneirismo de Alberto Dines nessa área custou-lhe muita dor de cebeça. Mas ajudou a melhorar a qualidade da apuração e da ética da imprensa.

(*) Editor do site no. (notícia e opinião) <www.no.com.br> e colunista do Jornal do Brasil

Nota do OI: A coluna "Jornal dos Jornais", editada por Alberto Dines, na Folha de S.Paulo, foi o espaço pioneiro de crítica de mídia na imprensa brasileira. Em sua primeira aparição, em 6/7/1975, Dines escreveu: "Cabe à imprensa provar em sua própria carne que abrir-se à critica não é prova de vulnerabilidade, mas de amadurecimento. O que prejudica é o silêncio." A coluna foi interrompida dois anos depois.

Minha faculdade de jornalismo

José Antonio Palhano (*)

Comecei emplacando duas dezenas de cartas no Jornal do Brasil, já lá se vão pelo menos dez anos. Seguiram-se três ou quatro cartas na Veja. Em 29/02/96, publiquei "Álbum de Família", minha primeira conquista no Globo, o que me obriga a duas observações indispensáveis: 1) à época, não tinha a mais mísera noção do que pudesse ser entendido como "observador da imprensa", a despeito de que meu texto era um sonoríssimo "pau" em matéria publicada no dia 25 daquele mesmo mês; e, 2) sou testemunha viva de que Luiz Garcia já era ali, antes de editor de Opinião, atento ombudsman do jornal dos Marinho. Seguiram-se outros artigos e crônicas, já sob Fritz Utzeri e Artur Dapieve.

Antes disto, cá em Campo Grande (MS), publiquei por um tempo, sempre eventualmente e sem qualquer vínculo empregatício, no único diário existente então. Dessa fase, meu melhor troféu é uma carta que recebi de Roberto Pompeu de Toledo, em resposta a artigo meu, saído aqui, que lhe enviei. (Devo dizer que no início fui um obsessivo chato com muita gente boa do eixo Rio-São Paulo.)

Até aqui, nada que me motivasse à profissionalização. Um pouco por conta da falta de mercado local e mais ainda pelo batente na medicina que, exercida dignamente por 20 anos, dispensa maiores comentários em termos de absorção e dedicação.

Se faço referência ao jornalismo profissional, que hoje exerço, é exatamente na intenção de expor ao paciente leitor a influência deste Observatório da Imprensa justo no tempo em que escrever foi a senha para deixar a medicina para me embrenhar numa redação. Descobrir o OI foi nada mais que tremenda casualidade, decorrente da condição de internauta das primeiras viagens. Clica aqui, clica ali, dei de cara com o nome de Alberto Dines, o que compreensivelmente me deixou interessadíssimo (ou interesseiro, já que a segunda vocação jamais deixou de pulsar, ali me apontando uma brecha).

Crítica siderúrgica

O que se seguiu foi uma experiência tão fascinante quanto arriscada e temerária. Passei a fazer parte de um grupo de profissionais consagrados cuja longeva experiência, além de situá-los anos-luz à minha frente, obviamente os credenciava a criticar nossa mídia bem mais que um calouro pretensioso pudesse ousar. Há aqui um aspecto que considero dos mais importantes: isto só foi possível graças ao caráter essencialmente eclético e democrático do corpo editorial do OI, que nem por isso jamais demonstrou qualquer predileção por omissões éticas ou mesmo benevolência face a textos sem qualidade de quem quer seja, desde que tomei conhecimento da sua existência. Da minha parte, creio que a formação universitária foi fundamental para entender suas propostas de forma a não confundi-las na conta de um salvo-conduto para picaretagens oportunistas investidas de detestáveis patrulhas que tão bem conhecemos. Hoje, já curtido, não me arrependo de festejar meus primeiros artigos como uma criança, em e-mails aos colegas editores, aos quais freqüentemente solicitava opiniões e palpites.

O balanço que faço como Observador aqui neste espaço, passados quase quatro anos, me remete ao nível profissional em que me situo hoje. Sou editorialista e colunista político da Folha do Povo, uma vitoriosa proposta de dois anos de idade. Sou o responsável pela editoria de Opinião do jornal, o que não é pouco. O OI me obrigou a uma concepção de jornalismo séria e reflexiva desde o primeiro instante, algo que seria impossível, cá no interior, tão pródigo em semanários gratuitos e altamente arrecadadores de recursos. Escrever razoavelmente, assim como tocar violão de ouvido, pode, em tais circunstâncias, involuir de dom nato para práticas tão lucrativas quanto acomodadas e marrons. Em suma, o OI me obrigou a pensar grande.

No início, confesso que me assustei com a "liberdade" e a "desenvoltura" com que Dines & cia agiam. Este batismo de fogo foi, no entanto, de extraordinária valia para me encorajar a ir no mesmo caminho sem perder de vista pressupostos éticos e morais capazes de impedir que baixe a cabeça para quem quer que seja. Não é fácil estar de repente a criticar, por vezes siderurgicamente, uma Folha de S.Paulo como se um frio cirurgião fosse. Dito melhor: é impossível tocar tal tarefa sem levar em conta os ensinamentos e o feedback do pessoal do OI.

Corporações poderosas

É oportuno observar aqui que chamar a si a tarefa de clamar por ética e posturas é, hoje em dia, empreitada freqüentemente interpretada como rematada caretice. São raros, entre nós jornalistas ou não, os que podem falar em crise de valores na sociedade brasileira de maneira desenvolta e imune ao deboche geral. Se esta existe, ao menos na percepção dos que fazem e dos que lêem o OI, é redundante concluir que grassa também nos meios de comunicação e na mídia em geral.

Concluo pensando que a experiência no OI me autoriza a utilizar aqui a expressão "extensão universitária" em toda sua plenitude. Tanto pela ousadia das suas propostas, pelo seu desprendimento em despertar e acolher opinião, quanto, principalmente, pela sua irrepreensível postura editorial, austera e inarredável o suficiente para espantar aventureiros e pajelanças irresponsáveis. Tenho a convicção de que a universidade e este OI estão visceralmente ligados. Até porque não custa lembrar que a internet é tida como a única grande novidade para os mais novos num jornalismo há muito dominado por corporações ou donos poderosos. Nada mais correto, pois, que reconhecer no trabalho do OI irrecusáveis e bem-vindos fundamentos acadêmicos.

No mais, sou eternamente grato a Alberto Dines, Marinilda Carvalho e Luiz Egypto, que jamais deixaram de responder a um e-mail meu, por mais tolo e ingênuo que fosse. Tanto que acabei por criar uma pasta para cada um destes meus colegas-professores.

(*) Médico e editorialista da Folha do Povo, de Campo Grande (MS)

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