BIRMÂNIA
O macete está na apresentação, disse U Tin Maung Than, redator e editor birmanês que enfrentou a árdua tarefa de escrever sob censura, até fugir da Birmânia para garantir sua segurança. Segundo Seth Mydans, [The New York Times, 24/6/01], escrever em tempos de censura é um exercício difícil e multifacetado que consumiu Than. Às vezes você mira muito embaixo e os leitores não entendem, e às vezes mira muito alto e os censores pegam, disse Than. Trata-se de um jogo praticado por todos os jornalistas independentes na ditadura militar da Birmânia: o redator contra o censor. As apostas são altas e em último caso a pena é a prisão.
Than, que tem 47 anos, foi editor da Thint Bawa ("Sua Vida"), publicação mensal de assuntos gerais que cresceu rapidamente, virando um desafio ainda maior para Than, que se recusava à passividade. No final do ano passado, sentiu que estava em perigo porque as autoridades viam-no como um problema político. Fugiu, com a mulher e dois filhos, para a Tailândia, onde aguarda documentação para entrar nos EUA.
Apesar de deixar claro que chegou ao limite, Than não esconde seu fascínio pelo duelo com os censores. Na Birmânia e em qualquer Estado repressivo, escrever sob censura torna-se uma arte, tanto para o jornalista quanto para o leitor. "Não se pode criticar", disse Than. "Deve-se dar dicas de que se está sendo crítico. As dicas estão na escolha de palavras, tons e composições. Usam-se palavras com duplo significado."
O desafio é passar pelos censores atingindo apenas os leitores. "Os censores não são burros nem inteligentes", disse Than. "São pessoas medianas. Às vezes nem estão interessados em seu trabalho, ficam entediados. Às vezes, os jornalistas intencionalmente escolhem um artigo longo de forma a se tornar entediante aos censores. Mas temos que encontrar um equilíbrio para que o texto não fique entediante para o leitor também."
"Às vezes o editor tem que selecionar um artigo muito agressivo e crítico. Ele sabe que será censurado, mas a intenção é exatamente essa, para colocar outro artigo no lugar. É como no xadrez: às vezes é preciso mover uma peça e perdê-la para poder mover outra peça em outro sentido."