ROLO HISTÓRICO ? IV
Alberto Dines
Quem não tem fita apela para o jornalismo declaratório. Assim como qualquer coisa gravada serve para colocar na capa, qualquer coisa entre aspas também serve para fazer barulho.
A entrevista-bomba de ACM em Miami publicada na edição da semana passada de Época (n? 147, 12/3/01) veio acompanhada de uma Carta do Editor promovendo-a ao status da entrevista de Pedro Collor em 1992, que acabou derrubando o irmão-presidente. A delirante comparação chama a atenção por duas razões: 1) Não era novidade, o próprio entrevistado já o dissera mais de uma semana antes perante o MP. 2) Além disso, a presunção de que ali iniciava-se outro impeachment fazia supor que a revista, a Editora Globo e o Grupo Globo iriam jogar-se numa cruzada para repetir a façanha [veja remissão abaixo].
O acesso carlista ou (paranóia auto-incensadora) teve que ser reparado na edição corrente (n? 148) em nova Carta do Editor (pág. 19), mais serena, porém não menos vexatória:
(…) Diferentemente do que sugere um trecho do texto de abertura da entrevista [e da Carta do Editor! ? grifo meu] as declarações de ACM não devem ser comparadas às feitas em 1992 pelo empresário alagoano Pedro Collor. (…) Primeiro, porque Fernando Henrique Cardoso ? como admitiu o próprio Senador Antônio Carlos Magalhães ? não exibe semelhanças visíveis com o jovem aventureiro afastado do poder. Os alvos dos ataques, portanto, não devem ser colocados no mesmo plano. Segundo, porque jornalistas sensatos sabem que a imprensa não tem poderes para fazer ou derrubar presidente, nem para outorgar ou cassar mandatos. Jornais ou revistas que se candidatam a tal papel arriscam-se a virar figurantes trapalhões em comédias de quinta categoria.
Para esconder a penitência, o texto leva o inocente título de "A oração de Mário Covas". A referência ao falecido é mencionada no quarto final, embora os bons autores recomendem que um título refira-se ao que é mais próximo e relevante. Seria muito exigir um "Erramos". Ninguém é perfeito.
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