Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A decisão da FCC vista daqui

PROPRIEDADE CRUZADA

Luiz Weis

Folha e Estado fizeram o que lhes competia ao chamar a atenção do público para a decisão que seria tomada na segunda-feira, 2/6, pela Federal Communications Comission (FCC) dos Estados Unidos, de derrubar as últimas barreiras legais à concentração da propriedade da mídia americana.

A derrubada, confirmando as previsões, consiste em permitir que uma empresa tenha até três emissoras de TV nas maiores cidades (ou “mercados”) do país; que, em muitas regiões, uma única empresa tenha um jornal e uma TV no mesmo mercado; e que o conjunto de emissoras pertencentes a uma rede de TV possa alcançar até 45% dos domicílios, em vez dos 35% atuais.

A legislação mais restritiva, como notou um ex-presidente da FCC, Robert Pitofsky, professor de direito da Universidade Georgetown, em Washington, citado pelo New York Times, partiu da premissa de que, quanto menos concentrada a propriedade da mídia e tanto maior o número e a diversidade dos canais de informação, melhor para a democracia.

O Estado de S.Paulo, que já tinha levantado a lebre em editorial de 3/3/02 (“Os riscos da oligopolização da mídia”), voltou à carga em 13/1/03 com outro (“A cartelização das comunicações nos EUA”) e arrematou outro mais (“A oligopolização da mídia americana”), em 25/5; transcreveu em 1/6, do Washington Post, sob a manchete “A mídia nos EUA: monopólio ou democracia?”, um contundente artigo contra as mudanças, de autoria de ninguém menos do que o fundador da CNN, Ted Turner; e, no dia seguinte, publicou a reportagem “Novas normas devem beneficiar conglomerados da comunicação”, do correspondente Paulo Sotero, seguida de um quadro que resume “O que muda e o que não muda” depois da decisão da FCC [veja, abaixo, remissões para os três editoriais do Estado de S.Paulo; e, nesta retranca, a reprodução dos artigos de Paulo Sotero, de Ted Turner e outros sobre o mesmo assunto].

Também em 2/2, a Folha ocupou com o assunto quase todo o espaço editorial disponível na página A 11, com um didático box “Entenda as mudanças”, mais informativo do que o do concorrente, por dizer quem é contra e quem defende o relaxamento das restrições, e de quem tudo depende.

O correspondente do Estado contradiz o argumento do presidente da FCC, Michael Powell, filho do secretário de Estado americano, que as limitações já não fazem sentido “em um mundo transformado pela TV a cabo e pela internet”. Sotero lembra que a fonte primária de informação, para 57% dos americanos, é a televisão aberta, e para 23% outros, os jornais.

A Folha, em matérias assinadas por Roberto Dias, de Nova York, e Renata Lo Prete, da Local, informa que, já agora, as cinco maiores empresas de comunicação dos EUA controlam 90% da audiência jornalística da televisão. No conjunto do setor, 10 empresas detêm 2/3 do faturamento global. O terço restante é disputado por cerca de 4.300 outras.

Boa encaçapada da Folha foi reproduzir um anúncio divulgado por movimentos americanos contrários à liberalização das regras. No título maior, lê-se: “Este homem quer controlar as notícias na América”. E, no título menor: “A FCC quer ajudá-lo”. Entre os dois títulos, o rosto carrancudo de Rupert Murdoch, o arqui-reacionário magnata mundial de mídia, aparecendo em quatro telas, com os logotipos das redes Fox (de sua propriedade), NBC, CBS e ABC. (O Estado reportou o anúncio na antevéspera, mas não o mostrou).

Já o mais recentes dos dois editoriais do Estado tinha falado em “murdoquização” da mídia nos EUA e lembrou que o canal Fox News era “a voz da América de Bush”.

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