CORREIO BRAZILIENSE, EPÍLOGO
TT Catalão (*)
[Da carta de despedida de jornalista do Correio Braziliense divulgada em 13/3/03, primeiro no sítio Comunique-se e em seguida distribuída por e-mail, pelo autor. Título da redação do OI.]
** Aos fraternos companheiros da redação do Correio Braziliense;
** aos queridos do "Correio DO Brasiliense" (página com textos, mini-artigos, crônicas e charges feita inteiramente pelos leitores que durou quatro anos);
** aos internautas que me acompanharam na coluna de cultura por dois anos no site correioweb (extinta em fevereiro de 2003);
** aos cúmplices cotidianos do "Desabafo" (coluna de frases curtas na página de Opinião que durou magníficos, honrados e dignos 6 anos), aos jornalistas colaboradores da página dominical de Imprensa que manteve na chamada grande imprensa um pouco da autocrítica na profissão (extinta em novembro de 2002);
** aos bravos membros do Conselho de Leitores (extinto em outubro de 2002) e à frágil Comissão de Ética (para a qual fui eleito representante desta belíssima redação);
** aos brasilienses de todas as lutas que me acompanharam na "Crônica da Cidade" das quartas-feiras, artigos editoriais de sábado e dezenas de pesquisas mensais na paixão em dar "contexto, história e análise ao noticiário" ? certamente uma utopia para o jornalismo fast food de entretenimento e rala expressão crítica.
Esta é uma pequena chance para uma despedida e o natural ? sangue italiano e espanhol ? seria escrever um libelo gigantesco de emoção transbordante. Vou decepcioná-los e me conter.
Dizer apenas: um jornal não se rende nem se vende; um jornal serve para servir; um jornal é resultado do caráter, talento e nível de liberdade praticados das rotativas até o gabinete circunstancial do comando; para a galera novata que me ensinou tanto (embora achassem o contrário) mantenham-se digna: é simples ser um jornalista, mesmo no meio da traição e da covardia, basta não permitir que a verdade seja violentada a um nível que lhe impute, mais tarde, vergonha; honrem esta cidade e o legado histórico do clandestino romântico Hipólito José da Costa que nos deixou, não só o nome, Correio Braziliense, mas os traços da sua missão… amo vocês, muito, muito, muito, amo esta cidade, tanto, tanto que esta é minha quarta demissão do Correio (e todas foram políticas, pois todas as opções, principalmente as chamadas "técnicas", envolvem juízo de valores e atitude comprometida com o tipo de perfil que se quer dar, principalmente no "negócio-jornal" em que na maioria das vezes confunde-se notícia com a mercadoria.
Saio imensamente feliz pelos anos de dignidade vividos, e mesmo, naquela "idade perigosa na qual ninguém oferece mais emprego" (esse povo não respeita nem a Campanha da Fraternidade, sô!), saio mais uma vez do Correio com a tranqüila convicção de não ter traído a razão legítima de existir um jornal: seus leitores. Que não são calhaus, que não são jogadas marqueteiras para arrotar "interatividade" quando desejam é censura à opinião cidadã livre e libertária.
Nisso, o nosso Conselho, o "CorrDOBras" e o "Desabafo" não traíram e só me deram imensa satisfação e orgulho de estar nesta cidade (exatamente uma cidade castrada em sua cidadania) e nela abrir espaço para milhares de leitores existirem ativos e não apenas consumidores passivos daquilo que o jornalista, em sua arrogância iconoclasta, admite ser "verdade", "justiça" e até mesmo "notícia"… honra imensa em compartilharmos do mesmo pão…gozo imenso em rodarmos na mesma festa…incrível como um coração consegue experimentar ao mesmo tempo dor pela perda profunda de uma tribuna, mas alívio por ter lutado cada minutinho da profissão para honrá-la.
Todo amor do TT Catalão. Eternamente graTTo…
PS ? Por favor, caso a nova direção pretenda retirar o gigantesco pôster que reproduz a capa de setembro de 1996, "Para que serve um jornal?", de quase 3 metros, na entrada da Redação, por favor: façam uma doação para o Sindicato do Jornalista. Escrevi este texto-editorial [veja remissão abaixo] na primeira resposta do jornal ao ataque insano, desequilibrado e agressivo do des-gorvenador [Joaquim] Roriz, em palanque, afirmando que iria fechar o Correio. Coisa que ele não conseguiu, mas parece estar sendo feliz nas maquiagens e simulacros de manutenção do título Correio Braziliense, mas não sei se do jornal, na plenitude da palavra. O tempo dirá.
Brasília não é karma (peso que se carrega) , mas dharma (graça que se leva).
(*) Jornalista
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