ESPECIAL 3+5
ASPAS
"O programa Observatório da Imprensa, marco na TV brasileira, está a fazer três anos e o Alberto Dines, este gigante da liberdade, pediu-me alguma palavra a respeito. Hoje existe acesa discussão acerca do sentido do noticiário de televisões, rádios e jornais. Com muitos anos de estrada, tenho uma tese, defendida, aliás, há alguns anos em Congresso em Barcelona, para a completa indiferença do plenário. É a de que o noticiário, no Brasil e no mundo, salvo exceções, está dominado pelo hiper-realismo.
O lema do hiper-realismo pode ser sintetizado na frase que alguém certa vez usou para defini-lo: ?Mais verdadeiro que o real?. Ele acrescenta maior precisão e nitidez, mais força e expressão ao que está sendo focalizado, enquadrado.
Ao mesmo tempo em que faz a realidade aparecer próxima do espectador, aumentada por lentes, aproximações e destaques, o hiper-realismo aumenta a estranheza e insere um elemento estimulador de reações, sem se afastar do real mas tornando-o maior do que é; simulando, inclusive, ser este a expressão da realidade total e construindo uma linguagem na qual o recurso da ênfase se transforma no próprio discurso. Distorce o real sem dele se afastar.
O hiper-realismo transforma em linguagem o que é recurso ? como a ênfase, por exemplo. Recria o real através dele mesmo, sem reproduzi-lo mas se utilizando de seus elementos para a criação de uma instância própria, de alta expressividade e participação, embora pareça relatar o acontecido de modo imparcial (sob a capa da objetividade informativa). É estratagema de pungente força transfiguradora pois utiliza, além do próprio real, a verossimilhança e a meia-verdade, unindo-as num todo coerente, verdadeiro e ao mesmo tempo ilusório.
É a mais penetrante e sutil forma de denunciar porque só é subjetiva no momento da escolha da objetividade destacada. Ou, no dizer de Karin Thomas: ?A temática fundamental do hiper-realismo é a ilusão da realidade e a realidade da ilusão.?
Para concluir, concordo que a imprensa até julgue. Está no seu direito e dever. Já não concordo quando após julgar, promova o linchamento."
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