MÍDIA NO DIVÃ
Claudia Rodrigues (*)
Tempos apressados? Que nada, o mundo está lento. Ainda discutimos as excelentes – e pouco eficientes na prática – idéias de Freud. Mal descobrimos Reich, e houve tanto depois dele. Reich, que foi aluno e colega de Freud, concordava com as teorias do velho mestre, as explicações sobre o comportamento mental – mas não suportava a negação do corpo, a separação entre corpo e mente. Observava a respiração presa das pessoas, os padrões de respiração, vinculados aos processos mentais, inscritos em determinadas zonas do corpo, e desbloqueava essas áreas, que ele batizou de "couraças musculares".
Para Reich, corpo e mente eram uma coisa só, e a mente poderia ser desbloqueada pelo corpo e por uma transparência entre profissional e paciente. Ele acreditava que o foco da terapia não poderia estar direcionado para o cliente, mas em cima da relação dos dois, o que evitaria o endeusamento do terapeuta por parte do analisado. Foi preso, acusado de charlatanismo, morreu na prisão, e a Food and Drug Administration teve tudo a ver com sua prisão.
Entre outras coisas, Wilhelm Reich descobriu que em 90% dos casos de dor de cabeça não era necessário usar aspirina. A dor de cabeça ocasional, ainda nos dias de hoje, se deve a um entumescimento da cadeia muscular das costas, que impede o livre fluxo de sangue entre corpo e cabeça. Massagens resolvem, são usadas para muitos males no Oriente, mas as tentativas ocidentais de lidar de maneira inteligente e sensível com a mente e com o corpo não cabiam, e não cabem, no sistema ocidental. São simples, não geram tantos lucros, não alimentam a ciranda econômica. A Bayer já sabia disso quando Reich, ingenuamente, se meteu a facão sem cabo no reino das vendas de aspirina. Foi fácil enfiá-lo na prisão, um louco que acreditava no restabelecimento da saúde e desconfiava das políticas acadêmicas e métodos científicos tradicionais.
Insight na terapia
Reich previu, por exemplo, que no século 21 estaríamos vivendo um tempo de "foda perniciosa", de descoberta do corpo como instrumento de prazer perverso e não amoroso. Chegou a escrever sobre a existência de salas em que as pessoas se aglomerariam a fim de esculpir músculos, preocupadas com a aparência do corpo e alheias aos próprios sentimentos e necessidades internas.
O autor de A função do orgasmo, que discutiu profundamente o papel do sexo amoroso, provido de sentimentos e atitudes libertadoras, foi discriminado em seu tempo por excesso de moralidade, e hoje continua na contracultura, entre outras coisas por excesso de amoralidade.
Não, Freud não seria um crítico de mídia hoje, como não o foi em sua época. Político antes de mais nada, Freud foi tão eficiente que seu poder ultrapassou um século de sua morte. E política é poder. E o que isso tem a ver com a mídia?
Tudo está entrelaçado. Os contrapoderes da mídia existem como existem os contrapoderes da psicanálise. O problema é que estão severamente escondidos, e quando vêm à tona são logo massacrados, mal-interpretados e, não raro, ridicularizados.
Bem, então não são contrapoderes. Sim, mas são densos e profundos e quanto mais pressa há, no mundo das máscaras, mais escondidos ficam os contrapoderes que habitam o universo das singularidades, das singelezas, das flexibilidades, das dificuldades a serem vencidas e não apoiadas em sua negação. Menos é mais, e quanto mais depressa se caminha mais tortos ficamos, mais rígidos, empedernidos, emaranhados na ilusão de que a vida é fácil, que pode ser mágica como um dia de insight na terapia.
Caldo ralo e tóxico
E a psicanálise é rígida, tão rígida que faz com que um analista fique anos escutando uma mãe se queixar de que bate nos filhos diariamente antes de fazer uma intervenção. Quando cai a ficha da mãe os filhos já estão crescidos, e então resta a ela livrar-se da culpa, perdoar-se por não ter conseguido dominar a macaca que a habitava. Tome mais 10 anos de análise para o autocompadecimento virar perdão.
E a imprensa é uma mãe-macaca que bate nos leitores diariamente e se compadece no dia seguinte para continuar batendo, afinal eles são burros, adoram porcaria e não agüentam um bom texto, comprido, bem profundo, que pode dar trabalho, exigir atitude, responsabilidade. Usando a linguagem psicanalítica, e eles são ótimos na linguagem, isso se chamaria sadismo. É sádica a relação da mídia com seus consumidores, como é sádica a relação de um psicanalista com seus clientes. Não há envolvimento emocional, preocupação ou atitude responsável que resulte em evolução para as partes. O pretexto para essa relação unilateral é o mesmo: não se pode invadir o outro, mas é justamente a invasão mascarada, e portanto não consentida, que se usa em ambos os casos. Na sala de terapia fala-se do "perigo da contratransferência", que sempre existe, e quando não é encarada de frente resulta na máscara entre cliente e terapeuta, no que Reich definiu como "couraça dupla", situação em que cliente e terapeuta fingem que estão trabalhando, quando na verdade estão enganchados, não raras vezes no narcisismo do terapeuta.
Na mídia fala-se da necessidade de ser imparcial como desculpa para não dizer coisa alguma, ficar em cima do muro, mascarar possibilidades que o consumidor poderia vir a desenvolver, como reflexão crítica, por exemplo. Sempre foi assim, mas piorou muito com a modernidade, nesses tempos lentos em compreensão e atitudes tanto quanto são rápidos em extensão e embotamento. Psicanálise uma vez por semana e os famosos textos enxutos, que nos deixam cheios de perguntas entaladas, formam um caldo ainda mais ralo e de difícil digestão. O que já não era nutritivo por excelência agora pode vir acrescido de substâncias tóxicas.
Fraldas no lixão
As revistas de mães e bebês, por exemplo, enfiam o pé na lama da psicanálise de cuecas, conseguem depurar o que há de mais maquilado na área e, com raras exceções, fazem um verdadeiro carnaval de contradições. Afirmam que o parto normal é melhor para a mãe e para o bebê, que o leite humano é o alimento ideal para o lactente, mas os textos, altamente comprometidos com a indústria de anunciantes, se contradizem no primeiro parágrafo e afastam as mulheres da realidade da maternidade, incentivando a mãe cultural a se propagar. A mãe cultural é aquela pessoa que quer ser mãe por vaidade, pela sociedade, para se auto-afirmar, e não é aquela pessoa que deseja educar uma criança, começando pelo direito ao parto, passando pela amamentação e prosseguindo, durante anos, no mar de responsabilidade e disponibilidade emocional que tal condição exige. Se as mulheres fossem bem informadas sobre os revezes da maternidade não seria necessária nenhuma prevenção radical de controle da natalidade, coisa em que o Brasil deve entrar em pouco tempo caso as revistas insistam em propagandear o "sonho" de se pôr filhos no mundo.
Mas quem está interessado em educação, em informação real nesse universo jornalístico? Tudo começa com as matérias sobre beleza, produtos antiestrias, anticelulites e inumeráveis versões de como ficar linda depois do parto ou da cirurgia. Passam pela praticidade dos acessórios para bebês – bebês-objeto –, transitam por jabás de produtos alimentícios e pseudoculturais e vão parar no ideal do filho que faz cocô perfumado.
Quem quer saber para onde vão os milhões de fraldas descartáveis – lixo irreciclável que junta o pior do orgânico com o pior do inorgânico – que o Brasil joga no lixão todos os dias? E quem não quer saber?
Economia e miséria mental
As revistas de mamães e bebês não querem saber dessa pauta, obviamente por razões comerciais/publicitárias. O problema é que não passam por cima apenas de um problema ambiental. O uso indiscriminado, como é feito no Brasil, da fralda descartável tem atrasado o treinamento esfincteriano e causado alergias que nem sempre aparecem no bumbum das crianças. Até onde chegou a velha psicanálise, o problema está em adiantar o treinamento esfincteriano, e não em seu atraso. Os psicanalistas não sabem, por exemplo, que o bebê está apto para sair das fraldas quando sobe e desce escadas, tem controle dos músculos esfincterianos, e que atrasar esse processo também causa problemas emocionais. Eles precisam errar durante 20 anos antes de chegar ao "insight". E as revistas se apoiam no saber da psicanálise, que nada tem contra o atraso na retirada das fraldas, reiteram que o problema está em adiantar o processo, e assim todos ficam satisfeitos, as fraldas são usadas além do que deveriam e a indústria ganha com isso. Perdem as crianças, mas as mães nem desconfiam das causas industrializadas dos narizes escorrendo. Nunca escorreu tanto nariz de criança como depois da explosão da perfumaria para bebês, mas essa pesquisa ninguém faz, não tem quem encomende.
E os leitores, estariam interessados nesse tipo de assunto, em ir fundo nesse tema, entender que sentir o cheiro do bebê é um guia seguro para saber de sua saúde? Que a troca constante de fraldas é o começo do aprendizado do controle esfincteriano? Que um bebê quando não sente seu xixi, porque a fralda é sequinha, fica sem contato com algo fundamental do funcionamento de seu corpo? Estariam interessados em saber que tipo de problemas emocionais terão as crianças de hoje que chegam aos 4, 5 anos usando fraldas mesmo quando não apresentam disfunções orgânicas?
Provavelmente, mas como compram revistas para se distrair e não para pensar, os leitores agradecem e consomem mais, afinal nunca estão de fato satisfeitos. Como os clientes da psicanálise, que são capazes de ficar 10, 15 anos com o mesmo terapeuta em busca de um leite que nunca sairá dali, os consumidores de revistas esperam um novo mês chegar para saltar nas bancas e comprar um sonho mágico: a cura dos revezes da maternidade, algo do tipo "como fazer para não ser mãe sendo mãe". Não há questões, só respostas, não há associações de idéias entre o que se vive, se sente e se faz, mas há consolo, mitificação e negação.
Uma imprensa comprometida com a verdade, ainda que a verdade seja subjetiva, estaria investindo em leitores cada vez mais exigentes, mais desconfiados, menos bonzinhos, mais seletivos. Por enquanto, as revistas fingem que informam e os leitores fingem que estão informados. Fica-se na maquilagem da informação com textos curtos, superficiais e tóxicos, uma vez que fortalecem as repetições dos padrões de comportamento. Vale lembrar que o mesmo raciocínio pode ser aplicado a outros temas e editorias, inclusive na área ecônomica, que insiste em martelar no rei disso, o rei daquilo; jogando para debaixo do tapete os milhões extorquidos dos escravos modernos, os assalariados. Não se ousa falar, na economia, sobre a perversão da concentração de renda. Seriam os psicanalistas idiotas econômicos? Economia e miséria mental nada tem a ver uma com a outra?
Bacanal financiado
A psicanálise está bem adequada ao sistema midiático, cai como luva com suas explicações, "porquês" para tudo, e ausência do "como" funcionamos de fato, "como" fazemos para chegar a isso ou aquilo, "como" poderíamos fazer para sair disso ou daquilo. Esse sistema de informação, altamente comercial, casa-se perfeitamente também com outros conhecimentos acadêmicos ortodoxos como nutrição, pediatria, psiquiatria, arquitetura, engenharia, economia e demais tribos da elite. Todas têm suas verdades inquestionáveis a ser ouvidas e divulgadas pelos meios de comunicação, que não hesitam em dar a palavra ao arquiteto mais bonitão, à médica mais elegante, ao melhor contador de abobrinhas. Juntos lutam em prol do proveito próprio e assim têm o prato feito, não para uma notícia parcial ou imparcial, mas para fabricar fantasias, palavras de algodão, cenas.
Ultimamente a piada nos jornais, revistas, rádios, televisões e internet é "a mais nova descoberta científica", diariamente estampada contradizendo pesquisas da semana anterior, do mês anterior, do ano anterior. Na área da nutrição, por exemplo, já se descobriu tanto que podemos acreditar no ideal de se comer isopor: sem gordura, sem sal, sem açúcar, sem colesterol e perfeitamente asséptico. Todas ou quase todas as "descobertas" na área nutricional estão ligadas à industrialização dos alimentos de um jeito ou de outro. O leite, por exemplo, in natura, fresco, fervido à moda antiga, virou veneno. O leite ideal é o de caixinha, o leite reinventado, asséptico, cuja embalagem é esterilizada com água oxigenada a 35% e que, curiosamente, não tem nata, nem cheiro peculiar, não vira iogurte ou coalhada, mas quando deixado ao ar livre simplesmente apodrece. E que veículo questiona o leite de caixinha, a ausência de microrganismos vivos nesse alimento milenar? Teria a falta de microrganismos vivos no leite e em outros alimentos industrializados algo a ver com o câncer? Quem está interessado nessa pesquisa?
Quem levou o consumidor a duvidar de que o leite fervido por três minutos é um alimento perfeitamente seguro? E quem está por trás disso? Isso tudo é mídia e indústria, um namoro esquisitíssimo que, entre outras coisas, está exterminando com a vida dos pequenos agricultores, mas isso já é uma outra história, ainda mais comprida que emenda lá em cima com o jornalismo econômico. Voltemos ao pesquisador, ao cientista, o sujeito que fabrica a bomba e de tão inteligente não percebe para que serve. O pesquisador já vai com a idéia na cabeça, passa anos, às vezes alguns meses apenas, tentando provar o que pretendeu e acaba conseguindo fazer jus ao seu salário e à encomenda feita pela empresa. Acontece que particularizando é possível comprovar tudo, e a ciência, de maneira geral, está um bacanal financiado pela indústria. Quando se junta à mídia e aos interesses atrás dela, aí vira essa coisa que ainda pode ser batizada de contranotícia.
Para virar leitor
Existe a verdade jornalística?
Depende. A verdade imparcial que se perseguiu esses anos todos, a verdade da pirâmide invertida, da nota que traduz o sim e o não de uma questão, não pode ser considerada uma verdade jornalística, simplesmente porque de tão descomprometida com a flexibilidade e a singularidade, de tão arrogante e narcísica, ansiosa para dar um ponto final, esquece que é a partir da dúvida que se instala o conhecimento e da humildade que se chega a um facho de luz mais abrangente.
A verdade jornalística, e não será uma verdade absoluta, surge quando fazemos uma entrevista e não nos contentamos com a fonte do lado A e a fonte do lado Z. É quando vamos mais fundo em todas as letras e perguntamos mais e mais, lemos mais e mais antes de deitar o texto em uma página. E quando o deitamos ainda deixamos ali várias perguntas a ser respondidas por outros, quando expomos nossas próprias vísceras para que as dos outros possam se manifestar e o crescimento vir a ocorrer, ainda que incômodo para todos, perturbador talvez, mas maquilado jamais.
Não bastam dois lados, não basta a esquerda e a direita de um fato, é preciso mostrar o que está acima, o que está abaixo, o que poderá vir à frente – provocação à inteligência do leitor – e sobretudo o mais esquecido nos textos em geral, o que está por trás da coisa toda. Aí sim o leitor vai poder tirar conclusões, obter o direito de discordar, pontuar, acrescentar, virar um leitor, um telespectador de fato e não apenas um penico que compra a vaidade dos que se vendem.
Síndrome do foco
Mas os meios de comunicação, cooptadíssimos pelo sistema rígido da ciências ortodoxas atuais, estão longe de querer se relacionar com seus leitores, ouvintes, telespectadores. Como na psicanálise, em que o foco de luz está voltado para o cliente, o sistema midiático é assim, coloca os holofotes dirigidos para o povo que só pode ficar ofuscado, cada vez mais engambelado e paralisado, à mercê dos deuses da (des)informação.
A primeira lição de engambelação é a dos títulos ou chamadas. O título ou chamada de uma matéria é a máxima da expressão desse problema do foco direcionado para um lado. Quando fazemos um título, e somos ensinados assim nas faculdades e depois nas redações, é preciso fisgar o leitor, levá-lo a pensar que algo incrível será lido, algo jamais visto antes, uma descoberta, de preferência um furo. Mesmo que o texto a seguir seja uma bobagem e a descoberta necessite de 50 anos para ser de fato confirmada. Assim, a notícia é um acumulado de palavras e imagens que tem um sádico de um lado e um masoquista de outro. Quem se mete a separar um casal tão unido como esse?
Mas vamos a uma notícia recente para exemplificar, e, só para temperar, continuemos com os bebês. A Folha de S. Paulo publicou na última semana uma nota – "Cesariana é melhor para parto invertido" – afirmando que os pesquisadores acabaram de descobrir que a cesariana é a melhor opção quando o bebê se encontra em posição fetal invertida, sentado no momento do parto. A pesquisa é recente, foi feita com pouco menos de 3 mil mulheres em várias partes do mundo, e afirma que as crianças que se apresentavam assim e nasceram via cirurgia tiveram menos problemas de falta de oxigenação, em decorrência do nascimento, do que as nascidas de parto normal. Mas faltou tanta coisa nessa notícia… Em primeiro lugar faltou saber se os médicos que fizeram os partos normais sabiam fazer manobras. Existem manobras para partos invertidos que são verdadeiras massagens, com a mãe participando da virada do bebê, sem contar com a possibilidade de receber, com sutileza, o corpo do feto do jeito que está, tomando cuidado para que o queixo não tranque no osso púbico, o problema mais grave que pode acontecer nesse tipo de parto.
Nos últimos 30 anos, em decorrência do abuso de cesarianas, os jovens médicos não têm praticado partos normais, desconhecem manobras, são inábeis com as pacientes e desenvolveram uma confiança enorme em seus poderes obstétricos, além de uma desconfiança natural, mas cada vez mais doentia, da capacidade de uma mulher em conseguir colocar seu bebê a salvo no mundo. Mais uma vez a onipotência, dessa vez na medicina. O resultado da pesquisa, estritamente voltado para a mãe e para o bebê, não se referiu aos médicos, seus estudos e habilidades, em nenhum momento. Temos aí, novamente, a síndrome do foco que não fica em cima do fato e de todos os envolvidos mas direcionado para um lado da questão, o lado da vítima; do cliente, do paciente, do consumidor.
Velha e vaidosa
E assim é, nossa mídia não está só nessa jornada de maquilagens, nessas notícias de faz-de-conta. Ela tem um terapeuta, o mesmo há anos, e ele é um psicanalista experiente que a deixa dormindo no divã porque nada se pode fazer quando a cliente chega ao consultório e quer dormir. É o direito da cliente, ela precisa chegar ao insight, entender por que está tão sonolenta, não se pode invadi-la, é preciso deixar passar muitas sessões antes de lançar uma pergunta no ar. E depois é prudente esperar, esperar, antes de interpretar. E quando ela decidir falar, e só sai abobrinha de sua boca, terá chegado o momento do psicanalista dormir. Ele dormirá longas e intermináveis sessões antes que ela se irrite, saindo de sua própria casca narcísica, e pergunte se é justo que ele durma. Ele responderá com uma pergunta. Para vingar-se, dar o troco, ela voltará a dormir, retornará ao padrão, tudo se repetirá várias vezes antes que cheguem ao primeiro ponto do primeiro insight: há uma repetição nessa sala, nessa sala há uma repetição, sala, repetição, há, nessa repetição uma sala…
Ansiosa para parecer uma mulher eternamente jovem e sedutora, a sonolenta mídia busca sombras na medicina, um batonzinho básico na engenharia, rímel na advocacia, do tipo à prova d’água, adereços na agricultura, tintura na pedagogia e o pretinho indefectível no que se chama arte ou cultura.
Nossa mídia é uma mulher velha e extremamente vaidosa que já casou muitas vezes mas nunca encontrou um companheiro bom o bastante, não teve tempo para os filhos porque o espelho era mais importante e até hoje está lá a mirar-se, como se fosse uma adolescente em busca de aprovação.
(*) Jornalista
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