Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A escolha de Arthur

CRISE NO NYTIMES

O recém-demitido editor-executivo do New York Times, Howell Raines, foi pescar. O publisher Arthur Sulzberger Jr. também. Mas, enquanto o primeiro saiu atrás de trutas, o segundo está atrás de um novo editor-executivo para seu jornalão. Joseph Lelyveld tenta tapar o rombo deixado na reputação do jornal, no cargo de editor-executivo temporário, até que um novo nome assuma a função.

Bill Keller, ex-editor administrativo do Times, é o nome mais cotado para ocupar o posto número um do Times, após ter perdido a corrida há dois anos. Ele não é o único candidato, mas tudo indica que levará a bolada, de acordo com Keith J. Kelly [New York Post, 11/6/03].

Oficialmente, a New York Times Co. apenas diz que procura um editor-executivo para substituir Howell Raines, mas não dá sinais dos nomes em jogo. “A busca começou no dia 5/6 [quando Raines e o editor administrativo Gerald Boyd pediram demissão] e incluirá tanto candidatos internos quanto externos”, disse Catherine Mathis, porta-voz do Times.

Keller tem apoio da sucursal de Washington, que desempenhou papel decisivo em convencer Sulzberger a permitir a saída de Raines no jornal. O conselho do Times deve se reunir em 19/6, mas ainda não se sabe se até lá terá sido escolhido o novo editor-chefe.

“Arthur decidirá quem será o contratado”, disse Catherine. “Lógico que ouvirá conselhos e dicas de outros colegas, mas no fim das contas é ele quem escolhe o novo editor-executivo.” Para Sulzberger, optar por Keller agora equivaleria a reconhecer que escolheu o homem errado da última vez: há seis anos ele preferiu Raines. Mas isso não importa agora. “Arthur não ouviu a redação da última vez”, disse um funcionário do Times. “Ignorá-la novamente seria um erro.”

Outros fortes candidatos são Dean Baquet, editor-administrativo do Los Angeles Times, e Martin Baron, editor do Boston Globe. Mas nenhum dos dois parece ter cacife para derrubar Keller, que vem escrevendo artigos de opinião para a revista do Times nos últimos dois anos.

A saída de Raines e Boyd gerou grandes controvérsias. Oficialmente, o jornal afirma não ter sofrido pressão alguma da família do publisher para a demissão de Raines. No entanto, algumas fontes disseram que a família Sulzberger se dividiu e instruiu Arthur Sulzberger Jr. a se livrar do editor. Sulzberger disse que os rumores são frutos de mau jornalismo. “Nunca me senti pressionado a tomar qualquer decisão ou dar qualquer telefonema… Se alguém disse o contrário, essa pessoa desconhece os fatos”, afirmou o publisher.

Frente à nova escolha, Sulzberger diz que seu escolhido será, em primeiro lugar, “um ótimo jornalista”, e em segundo, “alguém que saiba administrar uma redação complexa”, que provê conteúdo para as edições nacionais e internacionais do Times, o website, o canal de TV a cabo e o International Herald Tribune. “Estou atrás de liderança”, disse o publisher. “Liderança significa não apenas dizer às pessoas o que fazer, mas encorajar as pessoas a lhe dizerem de que precisam. Os melhores líderes são os que sabem ouvir para então distribuir as ferramentas.”

Para restaurar a credibilidade à frente do Times, Sulzberger teve de mostrar que sua relação de 21 meses com Raines não foi uma aventura inconseqüente. De acordo com Sridhar Pappu [The New York Observer, 16/6], ele deverá substituir o ex-editor de forma decisiva e certeira, e recolocar-se como real árbitro do futuro do jornal.

Fontes do Times disseram ao Observer que o conselho do jornalão quer um novo editor-executivo o mais rapidamente possível. Para muitos, o jornal que está agora sob o comando de Lelyveld já dá sinais de recuperação, com rumo mais definido. O que não é verdade para Sulzberger. O Times, disse o publisher, é o mesmo ótimo produto dos tempos de Raines. Jonathan Landman, o editor do caderno metropolitano que se tornou uma espécie de herói no episódio de Jayson Blair, por ter reclamado do repórter e alertado para a necessidade de se livrar dele bem antes de estourar o escândalo, disse que a atmosfera do jornal está bem melhor.

O julgamento de Howell Raines terminou. O de Arthur Sulzberger Jr. está apenas começando.

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