O POVO FALA
Em artigo no Newsday [23/6/03], a jornalista Sheryl McCarthy questiona a utilidade de se entrevistar pessoas aleatoriamente em busca de uma visão "das ruas". O assunto veio à tona por causa de Greg Packer, o operário de manutenção de rodovia que foi citado em mais de 100 matérias, segundo pesquisa feita por um repórter na internet. Suas opiniões sobre assuntos diversos, como a estréia do novo episódio de Guerra nas Estrelas e a invasão americana no Iraque, saíram em jornais, revistas e até televisão.
"Queremos declarações de homens e mulheres comuns para decorar nossas reportagens, dar-lhes ar de autenticidade", observa Sheryl. "Às vezes buscamos comentários que confirmem o que estamos querendo dizer. E queremos impressionar nossos chefes mostrando-lhes que estivemos na rua, e não só enrolando em nossos cubículos". Ao ansiar por um toque autêntico, o repórter pode se sentir atraído por um tipo como Packer, sempre disposto a falar e aparentemente de perfil de homem simples. Mas seu caso mostra que, para os jornalistas, não importa com quem eles falam na rua, e justamente essa falta de critério de escolha poderia invalidar qualquer entrevista desse tipo.
Contudo, Sheryl faz a ressalva de que falar com transeuntes aleatoriamente pode, em certos casos, ajudar a perceber algo que está no ar e não pode ser verificado simplesmente consultando-se fontes determinadas. Neste sentido, a reportagem feita nas ruas pode ter seu rumo mudado com a ajuda de um anônimo ? desde que não seja um arroz-de-festa como Greg Packer.