LEMBRANDO IBRAHIM SUED
Alberto Dines
A veemente condenação da ANJ à prática de publicar matérias publicitárias disfarçadas, sem caracterização, merece reflexões. Em primeiro lugar porque chove no molhado. Admirável seria se a entidade protestasse contra a publicação de reportagens pagas em geral.
Esta história de caracterização é pura enganação. O leitor não consegue distinguir a paginação, muitas vezes não enxerga as minúsculas letrinhas onde está dito que a matéria foi paga. Uma entidade moderna como a ANJ deveria fazer uma cruzada para abolir toda e qualquer matéria paga com cara de notícia. Texto pago deve ter cara de anúncio. Fingir que o contrabando noticioso é legal só porque foi envolvido por um fio quase invisível ou usa fontes diferentes é hipocrisia. Farisaísmo.
Há poucas semanas um semanário publicou uma sucessão de matérias descaradamente favoráveis ao governo do casal Garotinho no Rio de Janeiro. Não havia caracterização mas a continuidade das matérias e o tom abertamente favorável de todas indicavam algum tipo de comércio, escambo ou troca de favores. Vale?
Nesta semana outro semanário publica vastíssima e simpaticíssima matéria sobre a Companhia Vale do Rio Doce com a retranca "Especial". Isto é suficiente para caracterizar que a matéria foi encomendada?
Não seria o caso de criar na ANJ um mecanismo de monitoração? Mesmo auto-regulado, tipo Conar, poderia evitar os abusos disfarçados que não se justificam mesmo numa época de vacas magras.
A história dos jornais do interior do Paraná que passavam recibo do dinheiro pelas matérias publicadas [veja remissão abaixo] lembra o Ibrahim Sued, famoso colunista social do Rio. Consta que também ele passava recibo do que lhe pagavam pelas notas ou fotos e o documento seguia com o comprovante da publicação. A desculpa era genial: "Os outros prometem publicar, eu publico e comprovo".
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