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SCIENCE vs. NATURE
Por mais de um século, as revistas Science e Nature, as duas publicações científicas de maior prestígio do mundo, têm sido concorrentes indigestas e fleumáticas, comprometidas em promover o progresso humano com trocas equilibradas de descobertas, dados e idéias.
Patrick T. Reardon e Jeremy Manier [Chicago Tribune, 13/2/01] afirmam que nos últimos anos, porém, os semanários têm agido como outras tantas revistas de massa, lutando por leitores e anúncios. Ambas intensificaram seus esforços por furos de reportagem, divulgados com estardalhaço e marketing.
Agora, no âmago da competição acerca da maior reportagem científica de todos os tempos ? o término do mapa genético humano ?, uma das revistas pode ter ido longe demais. Tanto a americana Science quanto a britânica Nature chegaram às bancas em 12 de fevereiro com a mesma matéria de capa: o que significa o seqüenciamento bioquímico completo do genoma humano. Mas cada revista publicou uma versão ligeiramente diferente.
Um número crescente de cientistas proeminentes de todo o mundo diz temer que a versão publicada pela Science possa atrapalhar futuras pesquisas científicas. Tal versão foi produzida pelo grupo privado Celera Genomics Corp., que há três anos surpreendeu o mundo ao anunciar sua entrada na corrida pelo mapeamento genético e, em junho passado, comunicou, com o projeto do governo americano ? o Projeto Genoma Humano, que durou oito anos ? a finalização do rascunho da seqüência do genoma.
Planos iniciais indicavam que ambos os projetos seriam publicados simultaneamente na Science, mas, por causa de concessões de editores da revista à Celera, o Projeto Genoma Humano voltou atrás. Na segunda, dia 12, suas descobertas foram divulgadas na Nature.
Buraco mais embaixo
O "acordo" da Science com a Celera pode ter agravado relações já complicadas entre pesquisadores da iniciativa pública e da privada. Reconhecendo a importância de entender o que faz humano os humanos, pesquisadores têm rotineiramente depositado seus dados e resultados no GenBank, sítio na internet de acesso público.
Durante esse período, Science e Nature insistiram no fato de seus colaboradores colocarem no GenBank, ou em sítio aberto do gênero, os dados para determinada seqüência do DNA. Uma exceção à regra tem sido a Celera. Apesar de contar com os dados postados publicamente pelo projeto do governo, a empresa manteve confidenciais os seus dados.
Esperava-se que isso fosse mudar no ano passado, quando governo e empresa juntaram-se para anunciar os resultados a que haviam chegado. Ambas as revistas tentaram cortejar os dois times. O grupo Celera fechou acordo com a Science, devido ao alcance da publicação entre leitores americanos. Mas quando editores da Science começaram a negociar com as duas equipes, os problemas surgiram.
Celera só enviaria seu paper se pudesse manter os dados em seu próprio website, restringindo o acesso a pesquisadores de fora, particularmente a cientistas trabalhando para outras operações comerciais. Integrantes do projeto governamental disseram que, por meses, não imaginavam que a Celera estava exigindo concessões consideradas heresia por muitos cientistas ? e que a Science pretendia concedê-las.
Quando a Science concordou finalmente com os termos, a equipe do Projeto Genoma Humano virou-lhe as costas e decidiu publicar seus estudos da Nature. A situação é ruim, mas cientistas temem que, partindo desse precedente, muitas outras bases de dados serão restritas no futuro, o que poderia levar a uma indesejada "balcanização de dados".
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