ELEIÇÃO & PESQUISAS
Chico Bruno (*)
A cobertura sobre a sucessão presidencial foi ampliada em todos os meios de comunicação. Infelizmente, está prevalecendo a futrica e a fofoca entre candidatos a candidato a presidente, marqueteiros que gostam de propagandear seus serviços e especialistas em pesquisas que precisam oxigenar a política para faturar num ano de entressafra eleitoral. É um disse-me-disse de fazer inveja aos colunistas sociais. Aliás, vale a pena ler o artigo de Danuza Leão na Folha de S.Paulo de 11/11/01 sobre o assunto colunismo social. Mas, voltando à vaca fria, a imprensa brasileira antecipou definitivamente a sucessão do presidente Fernando Henrique, que está se vendendo e vendendo bem a imagem do país no exterior, com claros propósitos de utilização deste sucesso durante a campanha de 2002.
Essa antecipação do processo eleitoral é uma marca da imprensa brasileira. Basta relembrar as mais recentes eleições presidenciais. Em 1998, jornalistas, cientistas políticos, marqueteiros e donos de institutos de pesquisa faziam as mesmas ilações de hoje. A Roseana da vez era Guilherme Afif Domingos. Com as convenções de 1989 o quadro se apresentou outro, com o surgimento de nomes como Aureliano, Covas, Ulysses e outros mais. Deu Collor no segundo turno.
Construção de candidaturas
Em 1993 e 1997 o cenário era muito parecido com o de hoje. A imprensa e os entendidos da política apostavam em vitórias de Luís Inácio Lula da Silva, pois as pesquisas da época davam ampla margem de vitória ao candidato petista. Em 94 e 98 as urnas indicaram que o presidente eleito era Fernando Henrique Cardoso. Vale ressaltar que, em 1993, o vencedor era ministro das Relações Exteriores, e não teve seu nome aventado em nenhuma pesquisa realizada. Em janeiro de 1998, com a crise da equiparação um por um do dólar com o real, a imprensa pisou fundo no acelerador, confirmando que o virtual presidente seria Lula. Mais uma vez, ao tentar exercer a quiromancia, a imprensa errou. Deu novamente FHC.
Hoje, com a discussão antecipada, vale a pena se mirar nos exemplos acima. Eles demonstram que a imprensa morde a isca lançada por políticos e marqueteiros, que simplesmente querem valorizar seus cacifes, seja pelo lado da situação quanto pela oposição. Vejam que o PL ameaça se compor com Lula, o PTB se junta ao Ciro, o PFL fabrica uma candidatura, o PMDB baila com nomes como Itamar, Simon e Temer, o PPB lança Pratini e Delfim, e são todos partidos da base aliada de sustentação do presidente tucano FHC. Por outro lado, basta recorrer a 1989 para se ver que esses partidos isoladamente não conseguem eleger o presidente: em 1994 foi necessária uma aliança entre o PSDB e o PFL, com ajuda da maioria do PMDB, que abandonou Quércia à própria sorte, para eleger Fernando Henrique. Aliança ampliada em 1998 com a inclusão do PMDB, do PPB, do PTB e do PL para reeleger FHC.
Portanto, a um ano da eleição não dá para a imprensa dar tanto destaque à sucessão presidencial, principalmente por se basear em pesquisas que apontam que cerca de 70% dos entrevistados não citam nenhum nome na pergunta espontânea para presidente. Aliás, Herich Ulrich, do Ibope, e Tânia Gondim, especialista em pesquisas qualitativas, acham que as pesquisas de hoje servem como instrumento para a construção de candidaturas e nunca como placar eleitoral. No momento, a um ano das eleições, pesquisa serve, com certeza, para que os partidos vendam caro seu futuro apoio, principalmente ao PSDB. A imprensa, quem sabe ingenuamente, é o porta-voz dessa vergonhosa barganha política.
(*) Jornalista