ONDA DE CRIMES
Chico Bruno (*)
O assassinato do prefeito petista Celso Daniel, de Santo André, colocou em cheque a política de segurança pública do país. Os políticos, principalmente, os petistas, lançaram um amontoado de sugestões. Todo o mundo político, de uma hora para outra, se transformou em especialista em segurança pública. Nem bem se tinha digerido a triste notícia do seqüestro seguido de assassinato do prefeito, e outra execução de um homem público acontecia nas ruas de Belo Horizonte, a do procurador que investigava o cartel dos postos de gasolina. Novamente a turba política, e aí se incluem os dirigentes governamentais, se lançou na busca de medidas para minimizar a onda de crimes.
É incrível a cara de pau de políticos e autoridades. Muito antes destes tristes acontecimentos o povaréu já estava careca de saber que o crime compensa no país e que custa barato, como afirmou a juíza carioca aposentada Denise Frossard, aquela que colocou os banqueiros de bicho cariocas na cadeia e depois viu a própria Justiça, em nome da lei, devolver-lhes a liberdade. Ora, será que a classe dirigente brasileira não consegue enxergar que o Paratodos, a maior banca de jogo de bicho do país, tem lojas e pontos espalhados por todo o Brasil, superando em muito o número de agências bancárias? Será que não conseguem enxergar que milhões de CDs piratas são vendidos por dia em todos os estados brasileiros? Será que a imprensa não consegue ver que esses crimes não são combatidos pelos governos estaduais? São dois tipos de crime cometidos diariamente às nossas vistas, que não sofrem repressão e, também, não são pautados pela imprensa. Que belas matérias dariam, principalmente para as revistas semanais impressas e eletrônicas, tipo Fantástico.
Mas esses crimes só são notícia quando um bicheiro é assassinado, ou quando a polícia passa um trator em cima de milhares de CDs piratas. Assim como a maioria dos governos estaduais, a imprensa também pode ser considerada conivente, pela omissão.
Afinal, a imprensa não cobra ação policial para esses crimes, todos tipificados pelo Código Penal. Não crítica a promiscuidade entre contraventores e governantes. Nessa época carnavalesca, a promiscuidade é nítida, principalmente na Marquês de Sapucaí. Entre a passagem de uma e outra escola de samba, reúnem-se nos camarotes, para alegres convescotes, políticos e contraventores, os últimos travestidos de diretores de escolas de samba. Ao contrário, a mídia os entrevista com toda a naturalidade, e alguns dirigentes de veículos de imprensa sentem orgulho de tais amizade.
Está na hora de a imprensa brasileira assumir seu papel e aprofundar o estudo desse relacionamento. Está na hora de mostrar o porquê da conivência entre poder público e criminalidade. A partir desses pequenos delitos, quem sabe chegaremos aos grandes. De preferência, sem a chorumela de que o bicho e os CDs piratas empregam muita gente.
(*) Jornalista