THE WASHINGTON POST
Em coluna de 3/2/02, o ombudsman do Washington Post Michael Getler admira-se com o destaque que o presidente George W. Bush teve no WP durante a semana anterior. Ele esteve na primeira página diariamente graças a uma série de reportagens sobre o que aconteceu na alta cúpula do governo nos dez dias que se seguiram aos ataques de 11 de setembro.
O ombudsman recorda que na terça-feira seguinte ao discurso de Bush, na noite do dia 11, o Post trazia na capa o resultado de uma pesquisa de popularidade que revelava a grande aceitação do presidente, relegando ao segundo plano duas histórias muito importantes: o sucesso do ataque a um hospital de Candahar, onde soldados da al-Qaeda estavam alojados, e o caso da falência da empresa Global Crossing, a quarta maior bancarrota da história americana. Por causa disso, não tiveram destaque os 269,3 milhões de dólares que o presidente da companhia, Gary Winnick, havia ganhado com a venda antecipada de ações; os milhões de dólares que o pai de George W. Bush embolsou e a jogada de Terry McAuliffe, tesoureiro de Bill Clinton, que transformou um investimento de 100 mil dólares em… 10 dólares.
De qualquer forma, a série de reportagens de Bob Woodward e Dan Balz sobre os dez dias pós-atentados não deixa de ser extraordinária, dado o grau de informação que os dois repórteres conseguiram obter em um meio tão fechado. Todos do alto escalão concederam entrevistas aos dois jornalistas. O que surge daí, apesar de ser uma descrição do governo pelo próprio governo, é um retrato de um presidente novo no cargo recebendo uma pressão sem precedentes com uma equipe que passou por aqueles dias difíceis de uma forma decidida e desafiadora.
Getler lembra, porém, que apesar do valor inegável da série, chama a atenção o fato de jornalistas, em momentos cruciais da história, quase sempre serem obrigados a fazer reconstituições a partir de relatos. Infelizmente, não há outra maneira.