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"A informação e o conhecimento como mercadorias", copyright iG.com (www.ig.com), 27/10/00
"Na velha economia, na economia anterior à Internet, a informação era uma mercadoria suficientemente valorizada para que o seu preço cobrisse seus custos de produção, processamento e distribuição e ainda proporcionasse bons lucros às empresas de mídia, fosse esta impressa, radiofônica ou televisiva. Um dos grandes feitos da nova economia é a redução de grande parte dos custos da informação, sobretudo o seu processamento, armazenamento e distribuição. Conseqüentemente, o preço da informação caiu na mesma medida, chegando em muitos casos a zero, pois a publicidade paga parte do custo da informação e quando este torna-se muito pequeno, a informação pode ser oferecida de graça.
Outro dos grandes feitos da Internet é que enorme quantidade de informações podem ficar permanentemente à disposição dos interessados, pois o espaço disponível para textos nos sites parece infinito. Assim, quem acessar um jornal eletrônico pode ler as notícias, crônicas, análises etc. do dia mas também das edições anteriores, o que dispensa o interessado de criar o seu próprio arquivo de informações e conhecimentos. Informar-se através da Internet tornou-se não apenas barato, quando não gratuito, mas também fácil, requerendo muito menos esforços do que na época (ainda bem recente) em que fazíamos recortes de notícias e artigos da imprensa, que guardávamos em pastas classificadas para poder encontrá-los quando necessário.
O efeito da nova economia sobre o conhecimento está sendo, no entanto, oposto. O conhecimento ganho pela análise e interpretação de informações, quando produzido por capitais privados, está sendo vendido a preços de monopólio. Este fato ganha relevância à medida que a produção de conhecimentos está sendo privatizada. Até há alguns anos, grande parte da produção científica era paga com recursos públicos e por isso os conhecimentos assim ganhos eram oferecidos de graça, como bens públicos. Agora, uma parte crescente desta produção se realiza em empresas privadas, que tratam de proteger o seu direito de propriedade intelectual mediante o patenteamento ou o monopólio da reprodução [ o ‘copyright’].
Os Estados Unidos são o país em que a produção científica para capitais privados é a maior e possivelmente seja – ou em breve será – o seu principal produto de exportação. Os EUA usam o enorme poder que lhes dá o fato de constituírem o maior mercado do mundo de bens de consumo para obrigar todos os outros países, que lhes queiram vender mercadorias ou serviços, a pagar royalties e direitos autorais pelo uso de patentes e pela reprodução de obras de divulgação e entretenimento, de propriedade de seus cidadãos. Este encarecimento do conhecimento impossibilita a produção de novos conhecimentos, sobretudo em países semi-desenvolvidos de pouca tradição científica e com poucas empresas nacionais que possam contribuir de modo original ao avanço da ciência.
Como regra geral, só se produz conhecimento novo estudando e incorporando ou criticando e rejeitando conhecimentos anteriores. Se estes são protegidos pelo sigilo industrial, só o detentor da patente tem acesso a conhecimento indispensável à produção do novo. O efeito geral é concentrar os capitais ‘científicos’ e a produção científica nos países em que residem a maioria dos detentores de direitos de propriedade intelectual. A Internet produziu enorme aumento de demanda por conhecimento científico, sob a forma de texto ou incorporado em produtos. A difusão pelo 3º Mundo do respeito da propriedade intelectual, majoritariamente de não-residentes, implica em restringir o livre uso do conhecimento para a produção de mais conhecimento além de onerar o déficit nas contas externas e agravar a dependência econômico-financeira das grandes potências."
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