LUNETA GIRATÓRIA
E Marcos Sá Corrêa defende o desaforo no horário eleitoral gratuito
Ricardo A. Setti (*)
1. ? Os balanços sobre o aniversário do horripilante atentado terrorista contra as torres gêmeas em Manhattan e o edifício do Pentágono, em Washington, começaram já no fim de semana. Dos jornalões, talvez a Folha de S.Paulo tenha feito o trabalho de maior fôlego, da mesma forma que Veja entre as revistas semanais.
São inúmeras as reflexões e conclusões sobre o episódio. Mas duas delas cabem no âmbito desta coluna. Em primeiro lugar, parece haver um consenso de que, não obstante as proporções gigantescas do ataque aos Estados Unidos, de suas gravíssimas conseqüências para a ordem mundial e para o comportamento da superpotência hegemônica, não se tratou de um acontecimento capaz de “mudar tudo”, e após o qual “o mundo não seria o mesmo”. Não se pode compará-lo, por exemplo, ao ataque do Japão à base naval dos Estados Unidos em Pearl Harbor, Havaí, em 1941, que precipitou o ingresso do colosso americano na II Guerra Mundial, a partir do qual estava selado o destino do Eixo nazi-fascista ? e, também, com a vitória dos Aliados, moldado o planeta durante o restante do século 20 e boa parte deste novo século.
Em segundo lugar, pode-se dizer, sem exagero ufanista, que a mídia brasileira cumpriu com muita competência seu papel de informar e debater. Desde os atentados e ao longo do ano, o consumidor brasileiro de informação teve à sua disposição reportagens, artigos, entrevistas, material de primeiríssima comprado das melhores fontes internacionais e, sobretudo, pluralismo de análise e reflexão.
2. ? Não perca os comentários de Marcos Sá Corrêa sobre as eleições presidenciais no site <www.terra.com.br>, na página Eleições 2002 TV. Num dos mais saborosos, Sá Corrêa critica o excesso de direitos de resposta concedidos pelo Tribunal Superior Eleitoral aos presidenciáveis. “A campanha eleitoral é feita para o eleitor”, argumenta. “O candidato a utiliza apenas para informar o eleitor. A idéia de que a Justiça Eleitoral tem que estar de prontidão, a serviço de advogados de uma candidatura ou de outra, me parece um desvio de tarefa.” E conclui: “Se o desaforo ajuda o eleitor a tomar uma posição e a decidir, sou a favor dele”. A íntegra do comentário está em <http://tv.terra.com.br/eleicoes2002tv/interna/0,6048,OI22601-EI990,00.html>
3. ? Isenção e eqüidade são grandes virtudes do jornalismo. Tudo bem. Mas a Globo também não precisava exagerar: tem sentido dar espaço e cobrir com seriedade as “campanhas presidenciais” desses dois candidatos nanicos de extrema-esquerda, Zé Maria, do PSTU, e Rui Costa Lopes, de um certo PCO? Eles certamente têm o direito de concorrer, mas não representam nada nem ninguém.
4. ? Juca Kfouri começou muito bem, na sexta-feira [6/9], a série de entrevistas com presidenciáveis que também a Rede TV! está apresentando. Depois de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT ? de quem, aliás, Juca arrancou uma declaração de amor ao Corinthians ?, virão, na sexta, 13/9, Ciro Gomes, da Frente Trabalhista e, nas próximas, Anthony Garotinho, do PSB, e José Serra, da coligação PSDB-PMDB. Mas, nas entrevistas, será mesmo preciso que entrevistador e candidato fiquem o tempo todo de pé?
5. ? Forte candidato ao melhor trocadilho da semana o de Luis Fernando Verissimo, em sua coluna no Globo e no Estado de S.Paulo, sobre as esforçadas ? e inúteis ? tentativas do presidenciável tucano José Serra de ensaiar passos de samba em eventos da campanha:
? [Para ele] O fim justifica os meneios.
6. ? Veja São Paulo que está nas bancas traz, em sua reportagem de capa, um perfil que jornais e revistas de abrangência nacional tinham a obrigação de ter feito: o do médico Dráuzio Varella, excelente profissional de sua área que conseguiu se transformar num fenômeno de comunicação em prol da preservação da saúde. Além de tudo, o doutor Dráuzio é um belo escritor.
7. ? A história do Correio Braziliense se confunde com a da capital federal. Mas, durante boa parte de sua trajetória, sua importância decorria sobretudo de, por estar em Brasília, ser o primeiro jornal lido pelos que decidem no Executivo, no Legislativo e no Judiciário federais.
Desde que o jornalista Ricardo Noblat assumiu o comando da redação em 1994, porém, o Correio, que já vinha numa trajetória de aperfeiçoamento, deu um enorme salto de qualidade e, sobretudo, de credibilidade e isenção. Sem compromissos com o poder ou com os diferentes grupos que se digladiam por ele no Distrito Federal ? não raro com ferocidade ?, o Correio exerce implacável vigilância ao governo de Joaquim Roriz (PMDB), a partidos políticos e a grupos econômicos, além de ser um pólo irradiador de informações sobre o crime organizado ? a ponto de não apenas Noblat mas também sua família terem sido ameaçados de morte.
No plano especificamente jornalístico, em sua “Carta ao leitor” Noblat, quando necessário, não poupa críticas aos erros e omissões do próprio jornal.
8. ? Está cada vez mais difícil ouvir as emissoras de rádio AM em busca de notícia. Apesar de excelentes profissionais militarem no jornalismo de rádio, o excesso de propaganda, quase sempre de má qualidade, e a enxurrada de vinhetas para tudo, durante as 24 horas do dia ? notícia, comentário, previsão do tempo, chamadas para a programação ? provocam um festival de poluição sonora e espremem o espaço do jornalismo. Sem contar, é claro, a nefasta mistura, cada vez maior, que as emissoras fazem entre jornalismo e propaganda. Até o pessoal da previsão do tempo é levado a usar sua credibilidade para, de própria voz, apregoar as maravilhas de produtos e serviços.
9. ? Vocês já viram a edição de setembro da Vogue americana? [21,70 reais nas bancas que vendem revistas estrangeiras.] Deve ser o sonho dourado de muitos publishers: incríveis 752 páginas, estourando de publicidade e de ganhar dinheiro. Sonho de publishers, bem entendido, porque não se encontra, ali ? podem conferir ? um miligrama sequer de jornalismo propriamente dito.
10. ? Ele é jovem, bem apessoado e carismático. Pode ganhar as eleições para governador já no primeiro turno, e isso no segundo maior coléacute;gio eleitoral do país: Minas Gerais. Além do mais, é apoiado oficialmente por oito partidos, e mais oito descarregam votos nele via apoios extra-oficiais. Tem dois presidenciáveis ? José Serra e Ciro Gomes ? subindo em seu palanque, e um ex-presidente da República ? o governador Itamar Franco ? engajado em sua campanha. Não bastasse, é um bem-sucedido presidente da Câmara dos Deputados e neto de Tancredo Neves.
O que mais é preciso para que tenhamos as belas reportagens sobre a campanha de Aécio ao governo de Minas que ainda não apareceram?
(*) Jornalista