PESQUISA E DESCASO
Chico Bruno (*)
Entre 20 de março e 2 de abril foram divulgadas duas pesquisas de opinião pública sobre a performance do novo governo, uma do Ibope e outra do Datafolha. Como sempre, a imprensa se resumiu a publicar, com ênfase, os índices de aprovação e desaprovação do presidente da República. Mas uma vez desprezou uma leitura e uma análise de todo o conteúdo das pesquisas ou ao menos buscou argüir o governo sobre o assunto.
Desde 2000 que observadores reclamam postura mais analítica por parte da mídia quando o assunto é pesquisa de opinião pública. Principalmente agora, quando qualquer jornalista que passe pelo Planalto tem a oportunidade de ver, sobre as mesas da comunicação social do palácio, dezenas de relatórios de pesquisas encomendadas pelo governo para ajudar nas decisões que precisam ser encaminhadas.
No domingo passado, 13 de abril, a jornalista Helena Chagas, em artigo no Globo, toca no assunto. Seu artigo começa assim: "Pesquisas sobre a percepção popular das reformas estão orientando os últimos passos da estratégia do Planalto para encaminhá-las ao Legislativo…". A leitura completa do artigo derruba a expectativa de uma análise das referidas pesquisas, pois a jornalista envereda pela informação de que o governo vai colocar no ar grande campanha publicitária, com uma atriz global, com o objetivo de vender as reformas ao povaréu.
Novo alento ao iniciar a leitura de matéria publicada, também domingo, pelo Estadão. Nova decepção, pois o texto caminha similarmente ao da articulista de O Globo. Nem Helena Chagas nem o repórter do Estadão tiveram a mínima curiosidade em investigar os dados revelados pelas pesquisas, que determinam que o governo petista encete grande campanha publicitária de conscientização popular das reformas da previdência e tributária. Ouviram as explicações dos responsáveis pela comunicação social do governo e se limitaram a repassá-las aos leitores.
Cineminha é que interessa
Se tivessem ido atrás dos resultados das pesquisas teriam prestado aos leitores no mínimo uma informação valiosa e esclarecedora, que está explicita em uma das respostas da pesquisa do Ibope, feita por encomenda da Confederação Nacional da Indústria, na qual se lê que 67% dos 2.000 entrevistados em 145 municípios brasileiros não sabem o que significa Previdência Social, e que, dos 33% restantes, somente 13% a relacionam à aposentadoria ? as demais respostas são estapafúrdias.
Em seguida, o instituto quer saber sobre a reforma da Previdência Social e o resultado é que 31% acham que vai aumentar as aposentadorias, 11%, que vai diminuir, 26% pensam não será alterado o valor da aposentadoria para quem já é aposentado, mas para os que se aposentarem depois da reforma; 15% afirmam que vai diminuir no futuro, mas continuará havendo diferença entre as aposentadorias da iniciativa privada e a dos servidores públicos, e 17% não souberam responder. Bastaria a citação destes dois resultados para demonstrar a verdadeira razão para o governo veicular uma campanha publicitária sobre o assunto. Ao não se aprofundar na apuração a mídia faz jornalismo incompleto, cada dia mais presente em jornais e revistas.
Outro exemplo de falta de apuração rigorosa é o caso dos grampos baianos, que vem sendo investigado em três instâncias distintas: pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pelo Conselho de Ética do Senado. Mas tem sido tratado pela mídia de maneira burocrática, com sobrevida na mídia muito mais pela atuação da senadora Heloísa Helena do que por qualquer esforço jornalístico de investigação do assunto. Aliás, continua valendo a pergunta: qual a origem e o que terá feito o casal Roseana/Jorge Murad do dinheiro apreendido e depois devolvido pela Justiça? Bem que a imprensa poderia tentar, pelo mínimo, responder a essa elementar questão.
Pesquisas, grampos e reais, ao que parece, padecem de interesse. Os filmes do Alvorada é que devem interessar aos leitores dos jornais e das revistas brasileiros. A nossa mídia continua contando o começo de uma história, mas nunca consegue chegar ao seu fim, pois se contenta em encerrar a exibição ainda no meio da história. Quem sabe um dia ela chegue lá.
(*) Jornalista