Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A mídia nunca é inocente

OCTÁVIO IANNI NO FÓRUM

Thamara Rezek (*)

"O noticiário é uma caricatura de vídeoclipe disfarçada." Essa foi a frase que o sociólogo Octávio Ianni usou para definir o contexto em que se desenvolve a mídia no mundo globalizado durante a palestra de abertura do Fórum dos Cursos de Jornalismo, realizado em São Paulo entre 29 e 31 de março [veja remissões abaixo].

Segundo Ianni, um dos mais importantes sociólogos brasileiros e rigoroso analista dos processos de comunicação, a complexidade que a indústria cultural adquiriu no mundo contemporâneo transformou-a numa fabricadora de notícias, de registros e de imagens que nunca são inocentes. Para o professor da Unicamp e da USP, esse poderio avassalador justifica até mesmo a principal metáfora que usa para definir o papel que a mídia desempenha: ela é o "príncipe eletrônico" e faz às vezes do partido e da representação política, tal como Maquiavel interpretava o "príncipe moderno". Nesse sentido, o espaço midiático confunde-se com o espaço da política e do poder, servindo para a manutenção de hegemonias ou para a sua contestação.

Embora tenha sido severo e contundente na avaliação da atuação parcial e comprometida da imprensa, Ianni mostra-se confiante na construção de um mundo socialmente justo. "A globalização é uma realidade inquestionável e a mídia participa decisivamente em tudo o que diz respeito a ela". Mas, para o sociólogo, já estaria em marcha um outro processo de globalização, "de baixo para cima", resultado da articulação de uma sociedade civil mundial que procura impor suas demandas aos centros do poder. O exemplo desse processo é o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, que emerge como instância de articulação contra-hegemônica.

Cenário e perspectivas

Octávio Ianni é autor de obras fundamentais sobre a sociedade brasileira, como Metamorfoses do Escravo e O Colapso do Populismo no Brasil. Seu livro mais recente é Enigmas da Modernidade ? Mundo, premiado pela Academia Brasileira de Letras, em 2000, ganhador do Prêmio Juca Pato e responsável pela indicação do autor como Intelectual do Ano.

O Fórum dos Cursos de Jornalismo, realizado na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, é uma iniciativa de algumas faculdades de São Paulo e reuniu-se para discutir cinco temas considerados fundamentais para compreender o âmbito em que hoje se dá a formação dos profissionais de imprensa: capital estrangeiro e oligopolização da mídia; valores e princípios da prática jornalística; democratização das comunicações; formação do jornalista e regulamentação da profissão; e sistemas de avaliação dos cursos de jornalismo.

Os trabalhos dos grupos que discutiram esse temário deverão ser consubstanciados num documento final, que pretende refletir as preocupações dos participantes como o estado atual dos cursos de jornalismo e suas perspectivas.

(*) Estudante de Jornalismo

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